Entendendo a Decisão da CPMI
Recentemente, a 1ª Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) tomou uma decisão significativa ao condenar, por 4 votos a 1, o chamado “núcleo crucial” da suposta trama golpista de 2022. Entre os réus está o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que foi acusado de organização criminosa armada, tentativa de golpe de Estado e de promover a abolição violenta do Estado Democrático de Direito. Essa decisão acende um alerta sobre os desdobramentos jurídicos e o futuro desses processos dentro do cenário político do país.
O foco agora recai sobre a definição das penas a serem aplicadas, um aspecto que promete gerar divergências entre os ministros, especialmente no que diz respeito à pena do ex-presidente. As expectativas são de que essa fase do julgamento traga à tona debates acalorados e posicionamentos divergentes.
Divergências na Determinação da Pena
O ministro Luiz Fux, que se posicionou pela absolvição de Bolsonaro, é frequentemente visto como uma voz isolada na Primeira Turma. Em julgamentos anteriores, como no caso da cabeleireira Débora Rodrigues dos Santos, seu voto divergiu significativamente do dos demais ministros, o que pode ocorrer novamente neste caso. Para a condenação de Santos, Fux sugeriu uma pena de 1 ano e 6 meses, enquanto os outros ministros indicaram penas que variavam de 11 a 17 anos.
Essa discrepância entre os votos é indicativa de como o STF pode dividir suas opiniões sobre a gravidade dos crimes cometidos. Fux, por exemplo, argumenta que os crimes de golpe de Estado e abolição violenta do Estado Democrático de Direito estão interligados, o que poderia justificar uma pena mais branda para Bolsonaro, ao contrário de seus colegas, que podem buscar penas mais severas.
Como a Pena é Calculada?
A estrutura de cálculo das penas é complexa, conforme explica o advogado criminalista Guilherme Carnelós, especialista em Direito Penal Econômico. O processo inclui:
- Fixação da pena-base: Parte do mínimo legal para cada delito. No caso de organização criminosa, por exemplo, isso é de 3 anos. A gravidade das ações e suas consequências podem elevar essa pena.
- Agravantes e atenuantes: Aqui, aspectos individuais, como a liderança no crime, podem aumentar a pena, enquanto a primariedade pode reduzi-la.
- Causas de aumento e diminuição: Esses fatores podem aumentar ou reduzir a pena, dependendo das circunstâncias específicas de cada crime.
Os detalhes da dosimetria das penas serão cruciais, pois a lei estipula que penas acima de 8 anos devem ser cumpridas em regime fechado.
Possíveis Divergências entre os Ministros
A definição das penas pode se tornar um campo de batalha entre os ministros do STF. Segundo a advogada criminalista Marina Gomes, a maioria dos votos prevalece, mas em áreas onde não há consenso, pode haver negociações entre os magistrados. Algumas vezes, isso resulta em um “voto médio”, uma solução que busca um ponto de equilíbrio. Historicamente, esse tipo de acordo já foi utilizado em casos famosos, como o do Mensalão.
Penas em Debate e Expectativas Futuras
A Procuradoria-Geral da República (PGR) solicita condenações para Bolsonaro e outros réus por pelo menos cinco crimes, resultando em uma pena total mínima de 12 anos e máxima de mais de 40 anos. Destaca-se a acusação de organização criminosa armada, cuja pena pode variar de 3 a 8 anos, podendo aumentá-la significativamente se houver uso de armas ou se funcionários públicos estiverem envolvidos.
Especialistas observam que, para chegar a um consenso, os ministros precisam harmonizar seus votos. Em casos de divergência nas penas, a média aritmética mais benéfica ao réu tende a prevalecer.
Implicações da Prisão Após a Condenação
Mesmo se a condenação for severa, espera-se que Bolsonaro não seja imediatamente enviado para o regime fechado. A jurisprudência do STF estabelece que a pena só pode ser executada após a conclusão de eventuais recursos. O mesmo aconteceu com o ex-presidente Fernando Collor, que foi condenado em 2023, mas só foi preso em 2025.
Atualmente, Bolsonaro está sob prisão domiciliar em outro caso, o que pode influenciar a decisão final sobre seu regime de cumprimento de pena. Se as circunstâncias exigirem, ele poderá ter direito a uma cela especial, mas questões de saúde também podem ser levadas em consideração na decisão sobre a manutenção do regime domiciliar.