Impactos Econômicos do tarifaço nos Estados
Os estados brasileiros mais afetados pelo recente tarifaço, uma política comercial imposta pelo ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, estão preocupados com os possíveis desdobramentos sociais que essa guerra comercial pode acarretar. Em especial, o Espírito Santo, que depende significativamente dos EUA para suas exportações, tem observado uma parcela considerável de suas vendas, aproximadamente 27,5%, direcionada ao mercado norte-americano neste ano.
Embora setores cruciais da economia capixaba, como siderurgia e celulose, tenham conseguido evitar a alta alíquota de 50%, o vice-governador Ricardo Ferraço (MDB) enfatiza a existência de produtos que ainda não foram isentos. “Estamos aliviados, pois nossa exportação para os EUA gira em torno de US$ 3 bilhões anuais, e dois terços já foram resolvidos. Contudo, existem preocupações residuais com produtos importantes que permanecem sem definição”, explicou Ferraço em entrevista à CNN.
As inquietações em torno do impacto social são palpáveis. Ferraço destaca que muitos desses arranjos econômicos são sustentados por pequenas propriedades familiares. Isso é especialmente verdadeiro para os setores menores, como produtores de pimenta do reino e pescados, que enfrentam instabilidades severas. “Cerca de 100% do pescado exportado pelos capixabas vai para os EUA”, apontou o vice-governador, referindo-se à dependência crítica do mercado norte-americano.
Segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Pescados (Abipesca), a situação é alarmante. Eduardo Lobo, presidente da entidade, ressaltou que a atual taxa de 50% já comprometeu a competitividade do setor. “A corda já arrebentou para nós. Se o imposto subir ainda mais, nosso setor não conseguirá sobreviver. Estamos à mercê de uma solução rápida”, lamentou.
Desafios de Outros Setores
Frutas, em especial o mamão papaya, também fazem parte da lista de produtos em risco. Enquanto apenas 10,2% do total exportado de frutas e nozes frescas ou secas vão para os EUA, alguns produtores se dedicam exclusivamente a este mercado. O governo baiano mencionou produtos como manga, uva e goiaba como essenciais para a economia local. “Embora parte das mercadorias tenha sido excluída das tarifas, setores vitais ainda estão expostos, gerando impactos significativos na produção e no emprego”, afirmou o Executivo da Bahia.
A estimativa do Observatório da Indústria do Estado da Bahia indica que o tarifaço poderia resultar em uma queda de 0,27% no PIB estadual, o que representa uma perda de cerca de R$ 1,3 bilhão. Além disso, cerca de 210 mil pessoas estão empregadas por exportadores que comercializam com os Estados Unidos, conforme dados da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia.
Iniciativas para Mitigar os Efeitos
A Paraíba, que destina 34,7% de suas exportações aos EUA, está buscando novos parceiros comerciais e promovendo o consumo interno. O secretário da Receita estadual, Marialvo Laureano, mencionou que, nos primeiros seis meses do ano, as exportações para os EUA totalizaram cerca de US$ 10 milhões, com produtos como suco de abacaxi e pescados incluídos na lista de atingidos pelo tarifaço.
No Espírito Santo, a busca por novos mercados é uma estratégia de médio prazo. O vice-governador Ferraço está implementando soluções emergenciais, como crédito subsidiado, para apoiar diretamente de 3.500 a 4.000 famílias afetadas pela crise. “Estamos implementando medidas para assegurar que esses produtores não interrompam sua subsistência”, afirmou.
Recentemente, o governo capixaba lançou um plano de crédito rural de R$ 10 bilhões, que prioriza setores vulneráveis ao tarifaço. O governador Renato Casagrande (PSB) delineou diretrizes para assegurar que a linha de crédito seja direcionada a esses segmentos crucialmente impactados.
Em resposta à situação, o Ceará também tomou medidas, como a antecipação de créditos de ICMS e a compra de produtos alimentícios, visando minimizar os efeitos da tarifa de 50%. O estado, que direciona 45% de suas exportações para o mercado dos EUA, se vê na necessidade de explorar novas parcerias comerciais para diversificar sua economia.
Os estados afetados aguardam um plano de contingência nacional. O vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) sinalizou que um plano deve ser apresentado em breve, trazendo mais esperanças de recuperação para os setores impactados. Enquanto isso, a expectativa se intensifica na busca por soluções que possam amenizar as consequências socioeconômicas do tarifaço.