O Renascimento da Piscicultura no Acre
Em agosto de 2025, a Peixes da Amazônia foi oficialmente declarada falida, encerrando um longo capítulo que envolveu uma Parceria Público-Privada entre o Governo do Acre e 18 empresários. O projeto, que acarretou R$ 68 milhões em investimentos, tanto públicos quanto privados, viu sua história se desenrolar de maneira conturbada. No final de novembro, após diversas tentativas sem sucesso, o complexo foi vendido no leilão do segundo ciclo de ativos da massa falida, sendo arrematado por R$ 13,15 milhões pelo representante da OZ Earth.
Conforme reportado pelo ac24agro, a Justiça autorizou esse novo ciclo por conta do interesse de empresas em reativar o empreendimento, considerado estratégico para a piscicultura no Acre. Isso não só encerra um período de incertezas, mas também abre novas esperanças para a retomada das atividades produtivas, além de ajudar na recuperação dos valores devidos aos credores da massa falida.
Agora, é fundamental analisar o novo cenário e as perspectivas de demanda do mercado internacional para os peixes produzidos no Acre.
Pontos-Chave para a Retomada das Atividades
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Com a iniciativa privada assumindo a administração, a reativação do Complexo Industrial da Peixes da Amazônia requer uma abordagem abrangente que vai além da simples reabertura. A experiência acumulada mostra que o sucesso deste empreendimento depende do fortalecimento da cadeia produtiva da piscicultura, desde a criação dos alevinos até o processamento final. Para isso, é crucial trabalhar em alguns pontos essenciais: restabelecer a base produtiva dos pequenos piscicultores; reorganizar fornecedores e serviços complementares; garantir um volume mínimo de produção; implementar uma governança profissional e transparente; e assegurar uma integração logística sólida e um ambiente regulatório estável.
Para que a Peixes da Amazônia possa operar de maneira sustentável, é imperativo realizar uma reconstrução minuciosa da cadeia produtiva, preferencialmente por meio de cooperativas, que coloquem os pequenos produtores no centro do modelo, ao mesmo tempo que fortalecem fornecedores locais e garantem a escala de produção necessária.
A demanda internacional por peixes de água doce da Amazônia, especialmente espécies como tambaqui, pirarucu, pintado e tilápia, tem se intensificado em nichos que valorizam produtos sustentáveis e rastreáveis. Esse movimento revela oportunidades significativas para estados como o Acre, que dispõe de condições naturais favoráveis e experiência na piscicultura.
Exportações Brasileiras de Peixes de Água Doce: Um Panorama Recente
De acordo com os dados de exportação de peixes de água doce do Brasil entre janeiro e outubro de 2024 e 2025, observa-se uma forte concentração do mercado internacional em poucos países, com os Estados Unidos liderando como o principal destino do pescado brasileiro. Em 2025, o país absorveu US$ 84,2 milhões, correspondendo a 63,3% das exportações totais. Apesar de uma ligeira queda em comparação a 2024, quando detinham 73,8% do mercado, essa diminuição pode ser atribuída às tarifas adicionais impostas pelo governo Donald Trump sobre diversas categorias de pescados importados, incluindo produtos de água doce.
No entanto, os Estados Unidos continuam sendo, sem sombra de dúvidas, o maior comprador mundial de tilápia e outras espécies de água doce brasileiras, refletindo não apenas a magnitude de sua demanda, mas também a consolidação das empresas brasileiras nesse mercado competitivo.
A ascensão de países como China, Peru e Gabão nas exportações de peixes de água doce entre 2024 e 2025 está diretamente ligada ao aumento de tarifas nos Estados Unidos, que forçou a busca por novos mercados. A China, por exemplo, aumentou sua participação de 5,5% em 2024 para 6,8% em 2025, resultando em mais de US$ 9 milhões em compras, ressaltando seu status como o maior consumidor global de pescado.
A Importância Estratégica do Acre no Comércio Regional
As exportações de peixes de água doce de Rondônia alcançaram US$ 5 milhões entre janeiro e outubro de 2025, com destaque para o Peru, que absorveu 97,3% desse total. Um ponto relevante é que essas vendas foram majoritariamente realizadas pela Alfândega de Assis Brasil, no Acre, evidenciando a dependência de Rondônia do Acre como corredor logístico para acessar mercados andinos.
As exportações do Acre, que atingiram um pico em 2017 e 2018 com US$ 1,01 milhão e US$ 686 mil, respectivamente, mostram que a operação regular do complexo industrial pode inserir a piscicultura acreana no mercado internacional. Esse histórico ressalta a importância da Peixes da Amazônia para a manutenção da piscicultura no Estado.
A venda da Peixes da Amazônia, embora tenha encerrado um ciclo repleto de desafios, também oferece a oportunidade de estabelecer um novo modelo de gestão que pode revitalizar a piscicultura no Acre com bases mais sólidas. Com um mercado externo em crescimento, especialmente nos Estados Unidos, China e Peru, o momento se mostra propício para que o Acre recupere seu lugar no comércio internacional, desde que consiga reorganizar sua cadeia produtiva e fortalecer pequenos produtores.
