O Tarifaço de Trump e Seus Impactos
Ainda é incerto se Donald Trump realmente aplicará tarifas de importação de 50% ou 20% aos produtos brasileiros, mas o impacto gerado pelo possível tarifaço já é evidente na direita nacional. Os primeiros afetados foram os integrantes da família Bolsonaro — Jair, que se viu no centro de um processo no Supremo Tribunal Federal (STF), e Eduardo, que buscou sanções contra o ministro Alexandre de Moraes, mas acabou vendo um retrocesso que atinge o país como um todo.
Após o anúncio das tarifas, ficou claro que as chances do ex-presidente Jair Bolsonaro obter um alívio no processo sobre a trama golpista no STF ou conseguir a aprovação de uma anistia para os presos de 8 de Janeiro estão praticamente esgotadas. Eduardo, ao tentar se posicionar como um articulador da reação, proporcionou ao STF motivos para processá-lo por obstrução de Justiça, evidenciando que seu patriotismo é colocado em segundo plano quando se trata de interesses familiares. Caso retorne ao Brasil, ele poderá enfrentar a prisão ou a inelegibilidade.
Tarcísio de Freitas e a Busca por Apoio
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que anteriormente havia tentado se aliar a Trump contra Lula, agora se vê em uma situação delicada. Mesmo tendo ido ao STF para solicitar a devolução do passaporte de Bolsonaro, sua tentativa de convencer a elite empresarial de que não agiria como um subordinado de Trump desmoronou em questão de dias. Embora tenha rapidamente mudado de postura para defender os interesses dos empresários e dos produtores rurais, que são os mais impactados pelo tarifaço, sua reação apressada levantou dúvidas sobre sua capacidade de liderança na direita radical.
Retornar ao seu patamar anterior pode ser uma tarefa desafiadora para Tarcísio, uma vez que sua tentativa de agradar a Bolsonaro pode ter gerado desconfiança entre seus aliados.
A Resposta de Lula ao Tarifaço
Por outro lado, a situação não se tornou mais confortável para o presidente Lula. A decisão de não entrar em conflito direto com Trump, ao invés disso convocar o setor empresarial para desenvolver propostas em conjunto, e delegar a tarefa de negociações a seu vice, Geraldo Alckmin, foi acertada. Entretanto, a falta de comunicação efetiva com o governo americano e a escassez de alternativas eficazes indicam que um plano B é urgente para evitar danos eleitorais significativos.
Opinião Pública e Desafios Futuros
Pesquisas recentes revelam que, embora a maioria da população reprova a atitude de Trump, a posição do público em relação a uma possível retaliação é mais complexa. De acordo com um levantamento da Genial/Quaest, 53% dos entrevistados são favoráveis a aplicar reciprocidade às tarifas americanas, mas 39% se opõem a uma retaliação. Uma pesquisa da Atlas Intel mostra que apenas 44,8% consideram a resposta do governo Lula apropriada, enquanto 27,5% a consideram excessiva e 25,2% como insuficiente. Apesar de um aumento na aprovação da política externa de Lula, com a taxa subindo de 49,6% para 60,2%, ainda há uma parcela considerável da população que não aprova seu posicionamento em relação aos Estados Unidos.
O Tempo é Essencial
Com as tarifas previstas para entrar em vigor no início de agosto, o presidente Lula precisa encontrar uma solução viável rapidamente. O anúncio de uma investigação pelo governo Trump sobre práticas comerciais consideradas ilegais levou a uma reação moderada no Itamaraty, sinalizando que, apesar da complexidade da situação, há um espaço potencial para negociação, deslocando a conversa do âmbito ideológico para o técnico e econômico.
Porém, existem preocupações de que tal investigação não impeça Trump de aplicar o tarifaço e que, se necessário, ele possa retomar essa medida no futuro. Nesse cenário, a intenção de Trump de implementar seu plano permanece intacta, seja através de uma ação imediata ou com justificativas técnicas que surgirem depois.
Em um contexto onde Lula não tem incentivo algum para dialogar com Trump — um líder que não considera o Brasil como prioridade em suas importações —, a declaração do presidente americano, ‘Porque eu posso’, ressoa como um aviso claro. Com essas condições em jogo, é evidente que Lula também poderá enfrentar as repercussões do tarifaço de Trump.