Uma Nova Perspectiva Sobre a Violência Feminina
O documentário “Vozes do Silêncio” explora a violência contra a mulher no Acre sob diversas óticas: a visão da Justiça, a expressão poética e os relatos de mulheres sobreviventes. A obra reúne depoimentos, dados estatísticos e experiências que, muitas vezes, estão à margem da sociedade.
Entre os protagonistas está Medusa, uma poeta e slammer que transforma sua dor em arte e utiliza suas palavras para denunciar agressões. Em uma das passagens do filme, ela declara: “Escrevo para as que se foram, para as que resistem e para as que ainda vão encontrar coragem de falar.” Medusa representa a juventude que encontrou na poesia uma forma de resistência e sobrevivência. Através de sua trajetória, revela como a cultura periférica pode se tornar um espaço de acolhimento e enfrentamento. No documentário, ela enfatiza: “A gente escreve porque precisa existir, porque não dá mais para aceitar que a violência seja normalizada.”
A Visão da Justiça e os Desafios Legais
A produção também dá voz à juíza Louise Kristina Lopes de Oliveira Santana, que atua na 2ª Vara de Proteção à Mulher em Rio Branco. Louise enfatiza que a Lei Maria da Penha foi um marco na luta contra a violência doméstica, mas sua eficácia depende de ações práticas: “A Lei Maria da Penha é uma das legislações mais avançadas do mundo, porém, para que funcione, é imprescindível que existam estruturas de apoio, como delegacias especializadas e casas de acolhimento, além de uma rede de proteção acessível às mulheres.”
A juíza ressalta que romper o silêncio ainda é um dos maiores obstáculos: “Frequentemente, uma mulher leva anos para denunciar, pois está presa em um ciclo de violência repleto de medo, dependência econômica e pressão social. Ao buscar a Justiça, ela deve ser acolhida e ter respostas ágeis, caso contrário, corre o risco de retornar ao agressor e ser novamente vítima.”
Contexto Alarmante e Realidade Local
O documentário também contextualiza os relatos com dados do Acre, que já registrou altos índices de feminicídio e persiste como um dos estados com sérios problemas de violência contra a mulher. Esses dados são um reflexo de vidas interrompidas e da luta incessante por justiça. A realidade do estado serve como microcosmo de um problema que afeta mulheres em todo o Brasil.
Alexandre Nunes, diretor do documentário, explica a motivação por trás da obra: “”Vozes do Silêncio” surge da urgência de encarar uma realidade que frequentemente permanece invisível: a violência contra a mulher. O documentário convida o público não apenas a assistir, mas a refletir, discutir e se engajar em construir uma sociedade mais justa e acolhedora. Esperamos que cada espectador saia transformado e pronto para agir diante dessa realidade.”
Uma Abordagem Sensível e Coletiva
O diretor enfatiza que a equipe procurou abordar o tema com a devida sensibilidade: “Estamos lidando com uma questão dura e sensível: a violência contra a mulher. Era crucial tratar o assunto com respeito e firmeza na denúncia. Nosso objetivo foi sempre criar um espaço de escuta e acolhimento, onde as vozes silenciadas possam ser reconhecidas e ressoar.”
A produção contou com o apoio da Fundação Elias Mansour (FEM), do Governo do Acre e do Governo Federal, através de recursos da Lei Paulo Gustavo. Alexandre agradece a todos que contribuíram: “Quero expressar minha gratidão a todos que, direta ou indiretamente, ajudaram na realização deste documentário. “Vozes do Silêncio” é o resultado de um esforço coletivo que acreditou na importância de dar voz à escuta e resistência.”
O documentário estará disponível no YouTube, no canal Épop.