Defesa do Brasil Contra Acusações de Discriminação Comercial
A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) reagiu firmemente às alegações de que o país adotaria práticas comerciais desleais ou discriminatórias em relação aos Estados Unidos. Em um documento protocolado nesta sexta-feira (15), a CNA apresentou sua defesa em resposta à investigação iniciada a pedido do ex-presidente Donald Trump em julho deste ano.
A investigação, conduzida pelo Escritório do Representante de comércio dos Estados Unidos (USTR), se baseia na Seção 301 da Lei de comércio de 1974. Essa legislação oferece suporte legal para a apuração de práticas internacionais que possam ser consideradas injustas e que impactam o comércio americano.
Entre as possíveis medidas que os EUA podem adotar estão tarifas e sanções econômicas, visando corrigir quaisquer práticas comerciais que considerem desleais. O foco da investigação mistura aspectos comerciais e políticos, tentando justificar a aplicação de uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, citando questões como desmatamento e a utilização do sistema de pagamentos PIX do Banco Central.
No documento, a defesa da CNA se concentra em três dos seis eixos temáticos abordados pelos EUA durante a investigação. Veja a seguir a posição da entidade sobre cada um deles.
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Tarifas Preferenciais: Uma Análise
A primeira acusação se refere à concessão de tarifas reduzidas a parceiros comerciais estratégicos, o que, segundo a USTR, colocaria as exportações americanas em desvantagem. A CNA refuta essa alegação, afirmando que o Brasil adota tratamento tarifário preferencial de maneira restrita, conforme os acordos estabelecidos sob o Acordo Geral sobre Tarifas e comércio (GATT) e a Cláusula de Habilitação da Organização Mundial do comércio (OMC).
Os acordos mencionados, que incluem países como México e Índia, representam apenas 1,9% das importações brasileiras. Além disso, a confederação observa que os EUA têm acordos de livre comércio com 20 outras nações, reforçando que não há discriminação contra os produtos americanos.
Acesso ao Mercado de Etanol: Outro Ponto de Controvérsia
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A segunda acusação diz respeito à suposta reversão do Brasil em seu compromisso de fornecer tratamento isento de tarifas ao etanol americano, agora impondo tarifas consideravelmente mais altas. A CNA esclarece que, entre 2010 e 2017, o etanol dos EUA se beneficiou de isenção tarifária. Atualmente, aplica-se uma tarifa de Nação Mais Favorecida (NMF) de 18%, que é inferior à tarifa de 20% cobrada de países do Mercosul.
Além disso, a confederação destaca que o programa RenovaBio, que visa estimular combustíveis renováveis, permite a participação de produtores estrangeiros que atendam aos critérios estabelecidos.
desmatamento Ilegal: A Defesa do Código Florestal Brasileiro
A terceira acusação refere-se à suposta ineficácia do Brasil em combater o desmatamento ilegal, o que, segundo o USTR, prejudicaria a competitividade de produtores americanos de madeira e produtos agrícolas. A CNA contra-argumenta que o Brasil possui uma legislação ambiental robusta, incluindo o Código Florestal e a Lei de Crimes Ambientais, além de um sistema de monitoramento eficaz.
O Cadastro Ambiental Rural (CAR) é uma ferramenta vital que assegura a rastreabilidade e conformidade das atividades agropecuárias. A confederação também menciona o Sistema Nacional de Controle da Origem dos Produtos Florestais (Sinaflor), que garante o controle rigoroso sobre a exploração florestal.
Outros Eixos Não Abordados pela Defesa da CNA
Na defesa apresentada, a CNA não se posicionou sobre três eixos que constam no documento da investigação do USTR. Esses eixos incluem a questão do comércio digital e serviços de pagamento eletrônico, onde os EUA alegam que o Brasil prejudica empresas americanas, medidas de combate à corrupção e a proteção da propriedade intelectual, que geram preocupações sobre normas internacionais.
Essas questões levantadas pelos EUA se somam à complexa relação comercial entre Brasil e Estados Unidos, e a CNA afirma estar aberta ao diálogo para esclarecer e resolver eventuais mal-entendidos nas relações comerciais bilaterais.