Trump e as tarifas: Uma análise do conteúdo controverso
Em uma carta endereçada ao presidente Lula, Donald Trump revelou a intenção de impor uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, utilizando um parágrafo que já havia sido empregado em comunicações com outros 21 países. Essa seção contém ameaças de novas taxas e alega um suposto risco à segurança nacional dos Estados Unidos, além de trazer informações imprecisas sobre o déficit comercial nas relações entre Brasil e EUA.
A carta, que foi divulgada por Trump em uma rede social na quarta-feira (9), indica que a aplicação das tarifas começará a vigorar a partir de 1º de agosto. A mensagem, segundo analistas, reflete um padrão nas cartas enviadas a diversas nações, onde o texto básico era mantido, alterando apenas os nomes dos países e os valores das tarifas. Embora as versões anteriores enfatizassem a disposição dos EUA em manter relações comerciais, a carta ao Brasil apresentou um tom mais crítico.
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O presidente americano começou a correspondência mencionando o ex-presidente Jair Bolsonaro, além de criticar decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) e anunciar uma investigação contra o Brasil. Contudo, o trecho replicado de outras cartas continha uma afirmação falsa sobre a balança comercial. “Se, por qualquer razão, vocês decidirem aumentar suas tarifas, qualquer que seja o valor escolhido, ele será somado aos 50% que cobramos. Por favor, entendam que essas tarifas são necessárias para corrigir os muitos anos de tarifas, políticas não tarifárias e barreiras comerciais do Brasil, que causaram esses déficits comerciais insustentáveis contra os Estados Unidos. Esse déficit é uma grande ameaça para nossa economia e, de fato, para nossa segurança nacional!” Essa afirmação, no entanto, não se sustenta, já que o Brasil, desde 2009, tem importado mais do que exportado para os EUA, resultando em um superávit de R$ 484 bilhões para os brasileiros nas transações.
Uma fonte do Itamaraty comentou que a correspondência parece um “copia e cola” e sugere que a redação foi apressada, sem uma verificação adequada dos dados por parte do governo americano. Para ilustrar as similaridades nas cartas, o blog da Julia Duailibi apresentou uma comparação entre o parágrafo enviado ao Brasil e outro que foi dirigido ao Japão, revelando trechos quase idênticos.
A resposta do governo brasileiro
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Em resposta ao conteúdo da carta, representantes do governo brasileiro comunicaram à embaixada dos EUA que a correspondência seria devolvida. Durante uma entrevista ao Jornal Nacional na quarta-feira (10), o presidente Lula classificou a situação como inaceitável, destacando o fato de que o documento tinha sido divulgado por meio de uma plataforma de mídia social, o que o governo considerou inadequado.
Lula ainda acrescentou que o Brasil não aceitaria a intromissão de Trump nas questões internas e que buscaria apoio da Organização Mundial do comércio (OMC) para contestar as tarifas. A imprensa internacional também reagiu à postura agressiva de Trump, caracterizando-a como uma retaliação e um ataque pessoal.
Na carta, Trump também fez uma afirmação grave, sem apresentar evidências, de que a decisão sobre a taxa foi motivada em parte por supostos ataques do Brasil contra eleições livres e pela violação da liberdade de expressão dos americanos. Ele mencionou que isso havia sido demonstrado pelo STF, que, segundo ele, emitiu ordens de censura secretas e ilegais a plataformas de mídias sociais americanas.
Além disso, Trump fez referência a Jair Bolsonaro, reiterando que o ex-presidente é alvo de uma “caça às bruxas”. No encerramento da carta, Trump descreveu a relação comercial do Brasil como “injusta”, afirmando que estava distante de ser recíproca.