Estratégias em Resposta às tarifas Americanas
Em meio à incerteza causada pelas tarifas de 50% anunciadas pelo presidente dos EUA, Donald Trump, o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) está avaliando diferentes abordagens para mitigar os impactos. Desde o dia 9 de agosto, quando Trump fez o anúncio, integrantes do governo têm se reunido em caráter reservado para discutir alternativas que vão desde a diversificação de parcerias comerciais até a possibilidade de retaliação. Uma fonte do governo revelou à BBC News Brasil que a decisão de Trump pegou muitos de surpresa, especialmente pela sua motivação política.
Na carta publicada por Trump, o presidente americano se refere à imposição das tarifas como uma resposta ao processo judicial do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que enfrenta acusações relacionadas a um golpe de estado. Bolsonaro, que nega as acusações, se considera alvo de uma perseguição política. A postura de Trump foi interpretada como uma tentativa de interferir nas eleições brasileiras de 2026, visando fortalecer a imagem do ex-presidente Bolsonaro.
Com isso em mente, o governo brasileiro se vê em uma posição delicada, onde as opções de negociação para minimizar as tarifas são limitadas. Sem “moeda de troca”, o foco agora reside em estratégias comerciais e políticas, conforme a fonte citada.
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1 – Apostas em Novos Parceiros Comerciais
Uma das principais estratégias em análise é intensificar a diversificação das parcerias comerciais do Brasil. O governo pretende acelerar negociações de acordos que já estavam em andamento ou iniciar novas discussões. O objetivo é ampliar o leque de clientes para os produtos brasileiros, reduzindo a dependência dos Estados Unidos. As nações-alvo incluem a União Europeia, Canadá, Austrália, Coreia do Sul e Emirados Árabes Unidos.
Entretanto, essa missão não é simples. Atualmente, os Estados Unidos são o segundo maior parceiro comercial do Brasil, com um fluxo de comércio que atingiu cerca de US$ 80 bilhões em 2024. Historicamente, o saldo tem sido favorável aos americanos, com um superávit de US$ 410 bilhões em relação ao Brasil na última década e meia.
Um exemplo notável de potencial parceria é o acordo entre o Mercosul e a União Europeia, que poderia criar um mercado comum de 700 milhões de pessoas. Este acordo, que poderia trazer um incremento de até R$ 37 bilhões até 2044, ainda aguarda aprovação no Parlamento Europeu, onde a França tem se oposto fortemente.
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2 – Disputando a Narrativa Política
Além das estratégias comerciais, o governo Lula também está apostando na expectativa de que as tarifas possam gerar um efeito “rebote” nas percepções públicas. Existe a possibilidade de que o apoio da oposição às tarifas cause desgaste e leve alguns membros do bolsonarismo a defender a revogação das medidas junto a Trump. Especialistas alertam que ingerências estrangeiras geralmente despertam nacionalismo, o que pode beneficiar a retórica do governo Lula.
Nas redes sociais, o descontentamento com as tarifas se intensificou, incluindo reações de associações como a Confederação Nacional da Indústria, normalmente distantes do governo. O deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) também expressou apoio às tarifas, mas não conseguiu evitar críticas significativas.
3 – Retaliações como Último Recurso
Por fim, caso as negociações e a pressão política não surtam efeito, o governo não descarta a possibilidade de retaliar as tarifas americanas. A Lei de Reciprocidade Econômica, aprovada recentemente, permite que o Brasil responda a tarifas impostas por outros países. Na nota divulgada por Lula, ficou claro que qualquer aumento unilateral de tarifas seria respondido à luz desta lei.
Embora o governo ainda não tenha um cronograma definido para possíveis retaliações, a janela inicial coincidiria com o início das tarifas de Trump, previstas para agosto. O foco será garantir que as sanções brasileiras não prejudiquem setores internos.
As opções de retaliação incluem tarifas sobre produtos americanos, principalmente nas áreas de patentes farmacêuticas e royalties. Enquanto isso, o governo avalia como minimizar os impactos sobre sua própria economia e a indústria brasileira.