Histórias de Superação
Patrícia, ao recordar sua trajetória, descreve um momento decisivo em sua vida: “Conheci um caminhoneiro onde eu trabalhava e, entre dois ou três meses de casados, abandonei tudo: minha família, minha mãe, minhas irmãs. Fui viver dentro de um caminhão por quatro anos.” Este relato, marcado por dor e superação, ilustra a experiência de 4.440 mulheres vítimas de violência doméstica registradas no Acre em 2024, de acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública.
Além da separação de sua família, Patrícia enfrentou agressões de natureza física, psicológica e emocional. Ela comenta: “Ele fazia questão de que eu não me achasse bonita. Comentava sobre meu cabelo e roupas. Não percebia que era um relacionamento abusivo; achava que ele só queria mudar meu visual, mas era para me controlar e me destruir.”
Seu sofrimento foi intensificado por um diagnóstico que ainda carrega estigmas: Patrícia contraiu HIV sem saber, já que seu parceiro omitiu sua condição. “Eu queria morrer, pensava em me jogar do caminhão. Achei que não sairia viva dessa situação. A dependência emocional é muito pior que a financeira; eu fechava os olhos para tudo o que ele me fazia.”, desabafa.
Outra sobrevivente, Manuela, viveu experiências paralelas. “No começo, tudo parecia perfeito, mas logo vieram os ciúmes excessivos e o controle sobre cada aspecto da minha vida. Eu não podia usar maquiagem, perfume ou até mesmo trabalhar. Quando minha filha nasceu, estava sufocada”, narra. Ela ainda recorda que sustentava a casa enquanto seu marido, mesmo vivendo em Portugal, apenas trouxe uma geladeira ao Brasil.
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“Ele me diminuía, dizia que por eu ser obesa, não poderia trabalhar em ambientes pequenos. Isso me afastou de minha família e perdeu minha autonomia”, revela Manuela, que hoje tem uma medida protetiva contra o ex-marido. “Ele está em Portugal, mas pese a distância, nossas filhas precisam entender a importância do perdão, por ser o pai delas”, acrescenta.