Fortalecendo Parcerias na Cúpula de Xangai
O Primeiro-Ministro da Índia, Narendra Modi, fez sua primeira visita à China em sete anos para participar de uma reunião de dois dias do bloco de segurança regional da Organização de Cooperação de Xangai. O evento conta com a presença do presidente russo, Vladimir Putin, e líderes de países como Irã, Paquistão e quatro nações da Ásia Central, simbolizando um esforço conjunto em prol da solidariedade do Sul Global.
Analistas observam que tanto Modi quanto o presidente chinês, Xi Jinping, estão interessados em alinhar suas políticas para enfrentar a pressão ocidental, especialmente após a recente imposição de tarifas de importação de 50% pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre produtos indianos. Essa medida reflete, em parte, a insatisfação americana com a compra de petróleo russo por Nova Délhi.
As tarifas de Trump têm causado um impacto significativo nas relações que, por décadas, foram cuidadosamente cultivadas entre os EUA e a Índia. Washington esperava que Nova Délhi atuasse como um contrapeso a Pequim na região.
Compromisso e Diálogo
Durante a cúpula, Modi reafirmou a disposição de seu país em melhorar os laços com a China e trouxe à tona a questão do crescente déficit comercial entre os dois países, que gira em torno de US$ 99,2 bilhões. O Primeiro-Ministro enfatizou a importância de manter a paz e a estabilidade na conturbada fronteira que ambos compartilham, um tema crítico após o confronto militar de 2020 que resultou em um impasse de cinco anos.
“Estamos comprometidos com o progresso de nossas relações com base no respeito mútuo e na confiança”, afirmou Modi em uma reunião paralela, conforme relatado em um vídeo de sua conta oficial na rede social X.
O premier indiano também destacou que uma atmosfera de “paz e estabilidade” foi cultivada na disputada fronteira himalaica, e que a cooperação entre Índia e China é essencial para os 2,8 bilhões de cidadãos que habitam essas nações.
Parcerias e Oportunidades
De acordo com a agência estatal chinesa Xinhua, Xi Jinping ressaltou que China e Índia devem se ver como oportunidades de desenvolvimento mútuo, e não como ameaças. “Não devemos deixar que a questão da fronteira defina o relacionamento geral entre a China e a Índia”, afirmou Xi, sugerindo que os laços entre os dois países poderiam se tornar mais estáveis se ambos se vissem como parceiros.
O confronto de 2020, que resultou na morte de 20 soldados indianos e quatro chineses, levou a uma militarização intensa da fronteira himalaica, um fato que ainda pesa sobre as relações bilaterais. O Secretário de Relações Exteriores da Índia, Vikram Misri, declarou que as condições na fronteira têm evoluído ao longo do último ano, especialmente após um acordo de patrulhamento firmado em outubro, sinalizando que a normalização é uma possibilidade real.
Sobre as tarifas de importação dos EUA, Misri explicou que Modi e Xi discutiram os impactos da situação econômica global e como isso poderia ser uma oportunidade para um entendimento mais profundo no relacionamento econômico e comercial entre as duas nações.
Retorno de Voos Diretos e Cooperação em Vistos
Os líderes também abordaram a retoma de voos diretos entre Índia e China, que haviam sido suspensos desde 2020. Modi ressaltou que, embora um prazo não tenha sido definido, a reabertura é um passo positivo. Na mesma linha, a China decidiu suspender restrições sobre a exportação de terras raras, fertilizantes e máquinas de perfuração de túneis.
Além disso, a China se manifestou contra as altas tarifas impostas pelos EUA à Índia e anunciou apoio contínuo. Nos meses recentes, a China permitiu que peregrinos indianos visitassem locais sagrados no Tibete e suspendeu as restrições recíprocas sobre vistos para turistas.
Especialistas em relações sino-indianas, como Manoj Kewalramani, do grupo de estudo Takshashila Institution, veem essa reunião como um passo positivo rumo a uma melhoria gradual. Contudo, ainda existem desafios persistentes. O déficit comercial, que alcançou um novo recorde este ano, e preocupações sobre projetos chineses, como a construção de uma megabarragem no Tibete, continuam a ser fontes de tensão.