Uma Iguaria de Raízes Profundas
A diversidade cultural do Acre gerou adaptações gastronômicas que se tornaram verdadeiros patrimônios culinários, refletindo a luta do povo para afirmar sua identidade brasileira. Um dos pratos mais emblemáticos dessa fusão é o quibe de macaxeira, que combina elementos da tradição árabe, conhecimentos indígenas e a criatividade do Nordeste.
Inspirado no kibe árabe, trazido para o Acre por famílias sírio-libanesas durante o ciclo da borracha, essa iguaria foi reimaginada ao adotar a macaxeira, uma raiz cultivada há milênios pelos povos nativos da Amazônia. O resultado é um prato singular que cativou tanto os locais quanto os visitantes.
A Versatilidade da macaxeira
A macaxeira, também conhecida como mandioca, aipim ou maniva, constitui a base alimentar de muitas famílias na região Norte do Brasil. Sua flexibilidade na cozinha permite a criação de uma variedade de pratos, tanto doces quanto salgados, como tucupi, tapioca, farinha, bolos, mingaus e aperitivos. Durante o Festival da macaxeira, o quibe é destacado como uma das preparações mais significativas dessa raiz tão especial.
Comum em bares, lanchonetes, cafés e até em feiras ambulantes, o quibe de macaxeira é preparado com a raiz cozida e amassada, frequentemente recheado com carne moída e frito até atingir uma cor dourada. Essa releitura inovadora do prato tradicional do Oriente Médio recebeu uma alma amazônica.
O Sabor que Gera Profissões
No Mercado do Bosque, um dos pontos gastronômicos mais tradicionais de Rio Branco, o quibe de macaxeira brilha no cardápio. Frequentemente servido com molho de pimenta à base de tucupi, essa combinação realça ainda mais os sabores regionais.
O salgadeiro Elildo Ferreira, que atua no ramo há quase três décadas, compartilha sua experiência e técnica na preparação do prato. “Trabalho com panificação e produção de salgados há 27 anos. Faço quibes de macaxeira e de arroz para várias lanchonetes. Para o quibe de macaxeira, é fundamental higienizar bem a raiz, cozinhá-la e depois amassá-la. Após temperar e rechear com carne moída, é só fritar em óleo quente. O quibe de macaxeira e o de arroz são os mais procurados aqui no Mercado”, relata com entusiasmo.
Uma gastronomia de Mistura
O historiador José Wilson Aguiar destaca que a culinária do Acre é um reflexo direto da miscigenação de culturas que ajudaram a moldar o Estado. “Essa mistura de sírio-libaneses, turcos, indígenas, nordestinos e negros gerou o nosso quibe de macaxeira e outras receitas. O Acre é um pedaço do Ceará e do Brasil, com influências de pernambucanos, maranhenses, paraibanos e os nativos da Amazônia. Essa união cultural e gastronômica continua a ser celebrada”, ressalta.
Fonte de Renda e Identidade
Além de representar a identidade cultural do povo acreano, o quibe de macaxeira é uma importante fonte de renda para várias famílias. Marilândia Holanda, conhecida como Mary, vende salgados há mais de 15 anos em seu quiosque na Praça do Relógio, em Rio Branco. Com emoção, ela destaca: “Esse trabalho é o meu sustento e da minha família. Comecei vendendo apenas salgados, mas hoje ofereço uma grande variedade. Contudo, os salgados continuam sendo os mais vendidos, especialmente o quibe de macaxeira e o de arroz.”
Como Preparar o Quibe de macaxeira
Ingredientes da massa:
- 1,5 kg de macaxeira
- 3 colheres de sopa de manteiga ou óleo
- Sal a gosto
- Recheio de sua preferência (tradicionalmente carne moída)
Modo de Preparo:
- Cozinhe a macaxeira com um pouco de sal até que fique macia.
- Escorra e, enquanto ainda estiver quente, amasse com um garfo ou passe em um moedor.
- Adicione a manteiga ou o óleo para dar consistência.
- Modele bolinhos, fazendo um furo no meio para o recheio.
- Feche os bolinhos e, se preferir, empane com farinha de rosca ou de trigo.
- Leve ao congelador por 15 minutos antes de fritar.
- Frite em óleo quente até dourar.
O quibe de macaxeira não é apenas um prato, mas uma manifestação vibrante da miscigenação cultural do Acre, simbolizando a resistência e a criatividade culinária que conectam o passado ao presente através do sabor da raiz mais versátil da Amazônia.
Essas e outras delícias feitas com macaxeira estarão presentes no ‘2º Festival da macaxeira: da Agricultura Familiar ao Agronegócio’, programado para acontecer de 26 a 28 de setembro no Horto Florestal. Este ano, o evento traz um novo formato, focando na valorização da produção local e da cultura regional, sem atrações de nível nacional, priorizando apenas talentos locais. O festival contará com uma programação diversificada, incluindo palestras e oficinas voltadas para a tecnologia e fortalecimento do setor produtivo, abordando temas como mandioca, café, milho e outras culturas que desempenham um papel vital na economia acreana.