Queda nos preços do café e o Impacto da Sazonalidade
Dados recentes do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), divulgados na terça-feira (10), mostram que o preço do café moído teve uma queda de 2,7% em média no Brasil. Essa redução amplia a tendência que começou em julho, quando o produto já havia oscilações negativas, com uma diminuição de 1,1%. O que chama a atenção, no entanto, é que essa queda ocorre em um cenário marcado por tarifas elevadas, especialmente com a imposição dos Estados Unidos, que desde 6 de agosto, impuseram uma taxa de 50% sobre o café e diversos outros produtos brasileiros.
A análise da professora de economia do Insper, Juliana Inhasz, ressalta a influência da safra e da sazonalidade sobre o preço do café. “A safra do café de 2025 foi negociada no final de 2024 a valores elevados devido ao contexto do mercado. Isso fez com que os preços do café aumentassem neste ano. Entretanto, a colheita deste ano foi melhor, oferecendo melhores perspectivas para o próximo ano. Assim, o café começa a ser negociado a preços mais atrativos, mas esse benefício leva tempo para refletir no bolso do consumidor”, afirma Inhasz.
A especialista destaca que os ajustes de preços, principalmente as quedas, são um processo lento, pois os produtores, enfrentando custos elevados, relutam em aceitar preços inferiores aos que inicialmente esperavam.
Influência do Câmbio na Dinâmica de preços
Vicente Zotti, sócio-diretor da Pine Agronegócios, acrescenta que outro fator significativo na recente deflação do café é a valorização do real frente ao dólar. “Esse movimento diminuiu o apelo das exportações e, consequentemente, trouxe mais produto para o mercado interno. Contudo, acredito que, a partir de novembro, os preços do café no varejo devem subir novamente, refletindo o aumento recente nas cotações do café verde nas bolsas internacionais”, comenta Zotti.
Entretanto, no dia a dia, os consumidores ainda não percebem essa queda de preços nas prateleiras dos supermercados. Em São Paulo, pacotes de 500g de marcas conhecidas variam entre R$ 30 a R$ 47. Nos atacarejos, os preços ficam entre R$ 24 e R$ 34, valores que não diferem muito daquelas observadas antes das tarifas.
No acumulado de janeiro a agosto de 2025, o preço do café moído já experimentou um aumento de 38,38%. Além disso, a inflação anual do café atinge impressionantes 60,85%, colocando o produto entre os que mais avançaram entre os itens alimentícios.
Deflação Generalizada: Regionais e Exceções
O IBGE registrou uma deflação generalizada do café em agosto, afetando quase todas as regiões pesquisadas. Apenas Aracaju registrou um aumento de 1,26%. As maiores quedas foram observadas no Rio de Janeiro (-4,93%), Belo Horizonte (-4,82%) e Curitiba (-2,47%).
Curiosamente, Porto Alegre apresentou estabilidade em agosto, com uma leve variação de -0,13%. No entanto, quando analisamos o acumulado do ano, a capital gaúcha viu os maiores aumentos nos preços, com um surpreendente 51,41%. Salvador seguiu em 45,98% e Aracaju, com 45,75% de aumento.
Representantes da indústria alertam que, apesar da deflação recente, os preços do café não devem cair significativamente para os consumidores, uma vez que o cenário global é de escassez do produto. “Não se espera uma queda nos preços do café nos supermercados. A situação atual é de baixa disponibilidade mundial. O tarifaço gerou incertezas que incentivaram compras antecipadas na Europa e na Ásia, levando algumas marcas a anunciar aumentos de 10% a 15% em seus preços”, explica Márcio Ferreira, presidente do Cecafé.
Perspectivas Futuras e a Realidade do Consumidor
Os dados do IPCA revelam um cenário contraditório para o café: enquanto os índices oficiais indicam uma queda nos preços, os consumidores sentem um impacto significativo na hora de comprar seu café diário. Essa discrepância é resultado do intervalo entre o preço pago ao produtor e o valor final ao consumidor, somado aos custos logísticos, embalagem, mão de obra e as tarifas.
Assim, as perspectivas para os próximos meses não são das melhores. O consenso entre especialistas indica que os preços do café permanecerão altos, mesmo com o aumento da oferta na safra de 2025 e com a redireção de parte do café anteriormente destinado aos EUA. “O café é um produto essencial, que as pessoas valorizam muito e tem baixa elasticidade. As safras podem regularizar os preços, mas é ilusório pensar que eles voltarão aos patamares anteriores. O futuro depende de três fatores principais: a safra, o câmbio e políticas americanas. Uma combinação que vai delinear o futuro desse mercado, que permanece incerto”, conclui Inhasz.