Desafios e Avanços no cooperativismo Acreano
Em entrevista realizada nesta quarta-feira (30) durante a 50ª edição da Expoacre, Valdemiro Rocha, presidente da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), abordou os desafios e avanços enfrentados pelo cooperativismo no Acre. Um dos principais pontos destacados foi a essencialidade de ampliar a disseminação de informações sobre o setor. “Em primeiro lugar, é crucial trabalhar com informação. A OCB e o SESCOOP no Acre têm se empenhado em levar conhecimento sobre cooperativismo a todos — especialmente nas universidades, sindicatos rurais e na sociedade civil organizada como um todo”, afirmou Rocha.
O presidente reforçou que o cooperativismo possui um grande potencial para impulsionar o desenvolvimento sustentável em qualquer região do Brasil. “Mais de um bilhão de pessoas ao redor do mundo utilizam esse modelo para gerar resultados positivos em suas comunidades. Onde há cooperativas bem-sucedidas, geralmente, os municípios apresentam um Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) mais elevado”, destacou Rocha, citando estados como Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo e Minas Gerais, onde o cooperativismo já se mostra consolidado.
Rocha também ressaltou que mais de 50% do PIB agropecuário brasileiro é movimentado por cooperativas, englobando pequenos, médios e grandes produtores tanto na produção rural quanto na agroindustrialização. “O setor representa uma fatia significativa da produção no Brasil, tornando-se uma peça-chave para o agronegócio”, acrescentou.
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Gestão e capacitação: Desafios Cruciais para o cooperativismo
Ao ser questionado sobre as principais dificuldades enfrentadas pelas cooperativas no interior do Acre, Rocha sublinhou as deficiências nos processos de gestão. “Realizamos um autodiagnóstico nas cooperativas, e a necessidade de melhorias na gestão é evidente”, explicou. Ele destacou que essa fragilidade se relaciona a processos administrativos fundamentais, como contabilidade, fiscalidade, recursos humanos e outros aspectos que são vitais para que uma cooperativa consiga captar projetos, sejam eles públicos ou privados.
Além disso, Rocha enfatizou a necessidade de qualificação dos dirigentes. “Ser eleito em uma assembleia não garante que um dirigente se torne um gestor eficaz. Ele é um dos donos, mas precisa de formação adequada”, comentou. Para suprir essa lacuna, a OCB tem promovido programas de capacitação, como a oferta de cursos que permitem aos dirigentes completarem o ensino fundamental e ingressarem em graduações tecnológicas em cooperativismo, disponíveis online.
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Rocha mencionou que o desenvolvimento da identidade do cooperado é um dos principais desafios para fortalecer o cooperativismo na região Norte do Brasil. “Os associados precisam entender seus direitos, deveres, e saber como administrar conflitos de interesse que são inerentes ao modelo cooperativo. Afinal, eles são donos coletivos e usuários dos serviços da cooperativa ao mesmo tempo”, explicou.
Desenvolvimento do cooperativismo de Crédito e Transporte
O presidente da OCB ainda salientou a relevância do cooperativismo de crédito na cadeia produtiva do estado, especialmente no que diz respeito à bovinocultura, suinocultura e produção de grãos. “As cooperativas de crédito, como Sicoob, Sicredi e Credicis, têm investido fortemente na bovinocultura de corte e no financiamento de grãos como soja, milho e café”, disse Rocha. Ele destacou que, sem o acesso ao crédito, é difícil para as cooperativas se fortalecerem e conquistarem novos mercados.
Rocha também enfatizou a importância da integração logística com o Peru, mencionando os investimentos no corredor interoceânico que possibilitarão escoar produtos do Acre. “Estamos preparando a área de transporte para explorar essa oportunidade”, afirmou.
Recentemente, foi revelada a revitalização da Cooperativa Transoce, que se dedicará ao transporte de cargas entre Brasil e Peru. “Estamos fortalecendo o cooperativismo de transporte, um passo significativo para integrar nossa economia com mercados vizinhos”, enfatizou Rocha. Ele também ressaltou a importância da formação técnica para jovens que desejam atuar no mercado cooperativista.
Rocha concluiu indicando que a qualificação técnica e o comprometimento com os estudos são diferenciais cruciais para quem deseja se destacar no mercado de trabalho. “Se um jovem se dedicar a uma graduação de qualidade, facilmente poderá avançar para uma especialização ou MBA, se destacando em áreas com demanda no mercado”, finalizou.