Um Novo Capítulo na música Popular Acreana
Francisco Monteiro de Carvalho, carinhosamente conhecido como Monteirinho, faleceu aos 76 anos na noite da última sexta-feira, 26, em Rio Branco. A causa da morte foi pneumonia, e sua partida representa uma perda significativa para a música popular acreana, um dos pilares culturais que emergiram dos seringais de Xapuri e conquistaram palcos, festas juninas e movimentos comunitários na capital.
Nascido em 22 de julho de 1949, no Seringal Cachoeira, Monteirinho foi criado em um ambiente onde as tradições orais e a música popular eram parte do cotidiano. Filho de seringueiros, ele cresceu ouvindo histórias sob a luz da lua e participando das celebrações na casa de seu tio Doca. Essa vivência moldou sua musicalidade, caracterizada por composições que uniam diversas influências, como forró, brega, marcha e bossa nova. Seu repertório é uma homenagem à natureza e às lutas sociais, inspirado por artistas renomados como Dominguinhos, Sivuca, Trio Nordestino e Elba Ramalho.
Legado Musical e Social
Em 2011, Monteirinho lançou o álbum “Acre em música”, um projeto financiado pela Lei Estadual de Incentivo à Cultura, que apresenta 14 composições originais. Uma das faixas, “A luta não foi em vão”, é uma homenagem ao líder ambientalista Chico Mendes, um amigo e companheiro de militância. O sanfoneiro comentou sobre sua criação musical, afirmando que muitas de suas letras surgiam da inspiração pessoal ou das histórias que as pessoas compartilhavam com ele, sempre com uma mensagem carregada de significado social e romântico.
Além de sua carreira musical, Monteirinho teve um papel ativo na política local. Ele foi um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores (PT) no Acre, engajando-se nas causas dos trabalhadores da floresta. Em 2012, fez uma denúncia ao Ministério Público do Acre sobre um caso de suposta negligência médica que teria levado à morte de sua esposa em um hospital público, embora o processo não tenha avançado devido à falta de um laudo do Instituto Médico Legal (IML).
Reconhecimento e Memória
A trajetória artística de Monteirinho foi retratada no curta-metragem “Monteirinho: o Sanfoneiro da Floresta”, dirigido por Clemilson Farias. Com apenas 14 minutos de duração, o filme documenta a vida do músico durante uma celebração familiar, apresentando suas raízes sonoras. A obra foi exibida na abertura do Festival Pachamama – Cinema de Fronteira, em 2016, e na Mostra Ver-O-Norte, no Rio de Janeiro, em 2025.
O artista era sempre uma presença esperada no Arraial Cultural promovido pelo governo do Acre, onde se apresentava no palco Saudades do Seringal. Monteirinho também tocou ao lado de seu irmão, Raimundo Monteiro, e em 2022, recebeu uma homenagem da quadrilha CL na Roça, que celebrou sua trajetória com o tema “Da sanfona ao coração: Viva Monteirinho nas noites de São João”.
Entretanto, o ano de 2022 também trouxe desafios para Monteirinho, que enfrentou problemas de saúde e precisou ser internado no Pronto-Socorro de Rio Branco, aguardando uma cirurgia cardíaca. A gravidade da situação levou à mobilização de amigos e admiradores em um apelo público por doações de sangue.
Uma Despedida Emocionante
A nota divulgada pelo diretório estadual do PT expressa a profunda tristeza pela perda: “Perdemos nosso querido Monteirinho. Homem simples, de sorriso largo, que fez o povo dançar com sua música. Ele não apenas divertia, mas também contava histórias e refletia as lutas de um povo.”
O Partido dos Trabalhadores do Acre prestou uma homenagem sincera a esse artista popular e a um militante histórico, reafirmando que seu legado viverá eternamente nas canções e nas lembranças que ele deixou. O velório permanecerá aberto às visitas, permitindo que aqueles que amaram Monteirinho compartilhem suas memórias e honrem sua vida.