Um Encontro de arte e Ancestralidade
A arte e a ancestralidade ganham novas dimensões na voz de Kétila Flor, uma talentosa artista acreana que está prestes a levar sua contação de histórias para além das fronteiras da Amazônia. No dia 15 deste mês, às 17 horas, a artista se apresentará na Praça da Matança, localizada na Ilha de Boipeba, na Bahia, com a estreia de sua obra “Pretinha Ponciá”. Este evento é também a abertura da série “Encontá”, resultado da trajetória de Kétila como educadora e pesquisadora afrocentrada.
A entrada para a apresentação é gratuita e aberta ao público, simbolizando não apenas o lançamento de um projeto cultural significativo, mas também o retorno de Flor a um local onde ela já desenvolveu parte de suas “Encantações da Flor Preta”. Essa metodologia artístico-pedagógica, que se fundamenta no conceito de afroafeto, foi criada pela artista durante sua pesquisa de mestrado na Universidade Federal do Acre (Ufac).
Kétila ressalta que, como artista, é crucial explorar novas regiões do país. “Nós, da região Norte, enfrentamos um isolamento, não só pela distância geográfica, mas também por questões como o alto custo do deslocamento. Isso muitas vezes resulta na invisibilidade de nosso trabalho”, afirmou. Ela ainda observou que, ao chegar na Bahia, percebeu que muitos desconheciam a relevância da produção artística acreana. “As pessoas precisam mais do que conhecer a qualidade do nosso trabalho; elas devem entender que nossa arte é potente e significativa”.
Uma História que Transcende Gerações
A narrativa de “Pretinha Ponciá” gira em torno de uma jovem que, ao ouvir as histórias de sua avó, mergulha nas memórias e experiências das mulheres de sua linhagem. A protagonista é inspirada em Ponciá Vicêncio, uma criação da escritora Conceição Evaristo, e também na canção “Abayomi”, da artista Jéssica Gaspar. Essa tale tece uma rica intersecção de oralidade, música e literatura, proporcionando uma experiência sensível e educativa para crianças a partir de 7 anos.
Adicionalmente, a apresentação contará com interpretação em LIBRAS, a cargo da pesquisadora Joy Raiz, que é especializada em performances teatrais e musicais em língua de sinais, com ênfase nas chamadas “músicas de rezo”.
Kétila também destacou o processo criativo que culminou em “Pretinha Ponciá”, que se iniciou durante sua pesquisa de mestrado. “A primeira vez que contei essa história foi para as crianças do Educandário Santa Margarida. Depois, fui convidada a apresentá-la na USP [Universidade de São Paulo] durante o Festival Kwanzaa, em homenagem à Conceição Evaristo, uma das minhas grandes referências”, declarou.
Uma Metodologia Transformadora
A série “Encontá” faz parte das “Encantações da Flor Preta”, um projeto que Kétila iniciou em 2018 e que se transformou em uma metodologia no contexto acadêmico em 2021. A autora descreve essas atividades como “encontros cuidadosamente planejados que visam promover um processo educacional através do afroafeto”, unindo contações de histórias, mediação de leituras, brincadeiras e diálogos. Essa abordagem integra culturas e saberes, reforçando a identidade afrocentrada e a valorização da ancestralidade.
Kétila Flor, por meio de seu trabalho, não só enriquece a cena cultural brasileira, mas também luta contra a invisibilidade e pelo reconhecimento da arte da região Norte. O evento em Boipeba é apenas um dos muitos passos que ela tem dado para assegurar que a voz dos artistas amazônicos seja ouvida e apreciada em todo o país.