A Estratégia do Aumento de Impostos
No Brasil, a crença de que problemas estruturais podem ser solucionados por medidas pontuais, normalmente às custas do contribuinte, é uma tradição arraigada no cenário político. O governo de Lula parece aderir a essa prática, demonstrando uma preferência por aumentar impostos ao invés de enfrentar o desafio político de reduzir gastos públicos e implementar reformas necessárias. Um exemplo recente dessa abordagem é a Medida Provisória 1.303, que perdeu validade após ser retirada da pauta pela Câmara dos Deputados. Essa MP alterava as regras de tributação sobre investimentos e ativos financeiros, funcionando como uma compensação ao recuo nas alíquotas do IOF, tentadas em junho. Com essa medida, o governo esperava arrecadar R$ 17 bilhões no ano seguinte, quantia essencial para alcançar a meta de superávit primário de 0,25% do PIB, equivalente a R$ 34 bilhões. Sem essa estratégia, Lula perdeu uma das principais fontes de reforço de caixa previstas para 2026. O que se seguiu foi a reação habitual do presidente: a busca por novas receitas. ‘O padrão desse governo é simplesmente aumentar impostos’, afirma Marcus Pestana, diretor-executivo da Instituição Fiscal Independente (IFI), ligada ao Senado. ‘A agenda atual de Lula se resume em tentar preencher o buraco fiscal.’
A Narrativa Política Após a Derrota
Após a rejeição da MP, o Planalto procurou transformar essa derrota em uma narrativa política, recorrendo ao discurso da luta entre ‘pobres e ricos’. De maneira cínica, a MP 1.303 passou a ser apresentada como uma ferramenta de ‘justiça tributária’, ao invés de um aumento de impostos. De acordo com o governo, a rejeição da proposta evidenciou a resistência das elites em apoiar iniciativas que beneficiam a população carente. Na mesma noite da retirada do texto, Lula usou suas redes sociais para afirmar que a decisão não era uma derrota para o governo, mas para o povo brasileiro, pois limitava políticas públicas que beneficiam milhões.
A Nova Postura do Ministro da Fazenda
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O discurso de Lula encontrou respaldo no ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Inicialmente visto como uma voz moderada em defesa da responsabilidade fiscal, Haddad atualmente parece mais focado em assegurar o financiamento das promessas do presidente do que em promover o ajuste necessário nas contas públicas. Em audiência na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, no dia 14, Haddad classificou a proposta rejeitada como ‘muito justa’ e assegurou que o governo encontraria outras maneiras de compensar a arrecadação perdida, descartando a ideia de cortar gastos como opção.
O Caminho a Seguir e Novas Propostas
Diante do cenário desafiador, uma das alternativas que o governo poderá considerar é reavaliar a tributação sobre o IOF, o que poderia render quase R$ 20 bilhões em 2026. Essa e outras medidas somariam a trechos da MP 1.303 que não enfrentaram resistência, como a compensação tributária que poderia injetar cerca de R$ 10 bilhões nos cofres públicos no próximo ano. Contudo, enquanto busca aumentar a arrecadação, o governo também apresenta medidas limitadas para contenção de despesas, como a redução de R$ 4,8 bilhões no programa Pé-de-Meia, que oferece incentivos a alunos do ensino médio.
Alianças Estratégicas e Perspectivas Futuras
Em busca de apoio para reinserir partes da MP 1.303, Haddad e o líder do governo no Senado, Randolfe Rodrigues (PT-AP), se reuniram com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP). Com a base aliada debilitada na Câmara, o apoio de Alcolumbre pode assegurar uma tramitação mais tranquila no Senado, que frequentemente atua como um amortecedor nas tensões entre o Planalto e a oposição. ‘Os senadores podem não resolver todos os problemas de Lula, mas podem protegê-lo de algumas armadilhas e pautas-bomba da Câmara’, observa o cientista político Antonio Lavareda.
A Tributação no Setor de Apostas e Fintechs
Outras partes da MP 1.303 que podem ser reavaliadas incluem o aumento da tributação sobre casas de apostas online, que passaria de 12% para 18%, gerando uma receita estimada de R$ 1,7 bilhão em 2026. Durante a tramitação, a pressão das empresas do setor levou a um acordo que visava manter a alíquota atual em troca da criação de um regime especial de regularização fiscal. Além disso, o governo também pretende reviver a proposta de aumentar a tributação das fintechs, mudando a alíquota de 9% para faixas de 15% ou 20%, dependendo do porte da empresa. Esta mudança poderia arrecadar cerca de R$ 1,6 bilhão.
Refletindo Sobre o Futuro Econômico do Brasil
O governo Lula, ao priorizar o aumento da arrecadação em detrimento da redução de despesas, reitera um padrão que marca seu terceiro mandato, um comportamento que tende a se agravar conforme se aproxima o calendário eleitoral. Desde 2023, mais de vinte iniciativas de elevação de impostos foram lançadas. Essa insistência tem gerado munição para a oposição nas redes sociais, onde os memes proliferam, especialmente com Haddad sendo chamado de ‘Taxad’. Enquanto isso, oportunidades de ajustes estruturais são deixadas de lado, como a reforma administrativa, ainda parada na Câmara por falta de apoio. A inação resulta em custos significativos, com instituições como os Correios, que foram retirados do programa de desestatização, passando a exigir um empréstimo de R$ 20 bilhões, com o Tesouro atuando como fiador.
Desconexão e Expectativas Futuras
A desconexão entre o discurso do governo e a realidade se reflete nas premissas do Orçamento de 2026. As projeções otimistas de crescimento do PIB contrastam com as estimativas mais conservadoras do mercado. O governo prevê um crescimento real de 2,4%, enquanto analistas projetam apenas 1,8%. Essa diferença impacta diretamente na arrecadação, com o governo prevendo receitas de R$ 2,6 trilhões, em comparação com os R$ 2,5 trilhões projetados pela IFI, levando a uma expectativa de superávit que pode se transformar em um déficit. A economista Zeina Latif observa que a crise fiscal não é culpa da oposição, mas uma consequência da falta de planejamento do governo para alcançar um equilíbrio em 2026.
A Caminho de uma Crise Fiscal?
Com a aproximação do fim de 2025, o governo Lula enfrenta um descompasso entre suas promessas de responsabilidade fiscal e a adoção de medidas populistas que visam à satisfação imediata. O resultado é um Brasil vulnerável, com suas finanças à beira do colapso. ‘A máquina pública pode entrar em colapso antes de 2027, pois faltará dinheiro para as atividades básicas’, alerta Maílson da Nóbrega, ex-ministro da Fazenda. A menos que o governo deixe de lado a lógica da conveniência política, o país corre o risco de não apenas estagnar, mas de avançar em direção a uma crise financeira iminente.