Reunião Internacional sobre Geoglifos
Nos dias 8 e 9 de julho, o Palácio da Justiça, em Rio Branco, serviu como palco para o 5º Simpósio Internacional de Arqueologia da Amazônia Ocidental. O evento reuniu pesquisadores, instituições públicas e representantes da sociedade civil para debater a importância dos geoglifos da região, seu valor histórico, científico e as perspectivas para sua preservação.
Organizado pela Universidade Federal do Pará (UFPA) em parceria com o Instituto Ibero-Americano da Finlândia, o simpósio contou com o apoio do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Essa iniciativa faz parte do projeto “Geoglifos: Histórias Indígenas e Paisagem na Amazônia Ocidental”, coordenado pelo professor Rhuan Carlos Lopes, e em homenagem à arqueóloga Denise Pahl Schaan, uma referência nos estudos arqueológicos da área, que faleceu recentemente.
Debates sobre Preservação e Gestão
Uma das mesas redondas mais aguardadas do evento foi “Políticas de preservação e gestão dos Geoglifos”, realizada no dia 9 e mediada pelo procurador da República, Luidgi Merlo, do Ministério Público Federal (MPF). O debate contou com a presença de representantes de instituições como Iphan, Universidade Federal do Acre (UFAC), Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), e Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). O objetivo foi discutir o futuro do patrimônio arqueológico do Acre, um tema de extrema relevância para os envolvidos.
O superintendente do Iphan no Acre, Stenio Cordeiro, destacou a importância dos debates realizados. “A participação de diversas secretarias e órgãos federais mostra que estamos todos alinhados em um mesmo propósito: promover a geração de trabalho e renda. O geoglifo é um ponto de partida; o turismo é uma ferramenta que pode ajudar a população a conhecer e, consequentemente, preservar esse patrimônio”, afirmou.
Programação e Atrações do Simpósio
O simpósio também incluiu conferências internacionais, como a do professor Martti Pärssinen, da Universidade de Helsinki/Instituto Ibero-Americano da Finlândia. Foi exibido um documentário, além do lançamento de um novo grupo de pesquisa, que fomentou discussões sobre arqueoturismo e o papel da ciência na valorização dos conhecimentos indígenas ancestrais. O evento foi gratuito e aberto ao público, especialmente voltado a pesquisadores, estudantes, gestores públicos, lideranças indígenas e interessados na preservação do patrimônio cultural da Amazônia.
Entendendo os Geoglifos do Acre
Os geoglifos do Acre são formações no solo, compostas por valetas e muretas, que formam figuras geométricas e estão localizados na região sudoeste da Amazônia Ocidental, principalmente na porção leste do estado. Mais de mil geoglifos já foram identificados na área. Os primeiros registros dessas estruturas datam da década de 1970, mas foi a partir dos anos 2000 que começaram a ser alvo de pesquisas científicas mais sistemáticas, revelando informaçõe significativas sobre a utilização da paisagem amazônica por grupos indígenas que habitaram a região há cerca de 2,5 mil anos.
Embora não haja consenso sobre a função exata dos geoglifos, acredita-se que possam ter sido utilizados como espaços sociais e cerimoniais, além de possíveis áreas habitacionais. Os estudos sobre essas formações demonstram que o povoamento da região amazônica, no primeiro milênio da era cristã, foi realizado por grupos indígenas com habilidades tecnológicas significativas para modificar o ambiente, imprimindo características culturais na paisagem.
Pela sua singularidade e relevância na compreensão do período pré-colonial, os geoglifos constituem um patrimônio histórico e social valioso. Eles são fundamentais para a identidade amazônica, representando uma paisagem cultural que reflete as marcas sociais e simbólicas dos povos indígenas, evidenciando sua capacidade de interação com e manejo do meio ambiente.