Negligência e tragédia na BR-226
Um laudo técnico elaborado pela Polícia Federal revelou que o desabamento da ponte Juscelino Kubitschek, situada na BR-226 entre Estreito (MA) e Aguiarnópolis (TO), se deu por uma combinação de falta de manutenção, obras mal executadas e descaso por parte das autoridades responsáveis. O acidente ocorreu em 22 de dezembro de 2023, resultando na morte de 14 pessoas e deixando três desaparecidas. A revelação foi feita no último domingo (27) durante a transmissão do programa Fantástico, da TV Globo.
A ponte, cuja construção foi concluída em 1961 e que possui 533 metros de extensão, cedeu em questão de instantes. Segundo os peritos, o vão central desmoronou em menos de um segundo, evidenciando a fragilidade da estrutura. O laudo técnico aponta que nenhuma modernização foi realizada ao longo das décadas, desconsiderando o aumento do tráfego e a carga suportada por veículos pesados.
A última reforma significativa ocorreu entre 1998 e 2000, quando foram feitos reforços laterais e a camada de concreto foi substituída por asfalto. No entanto, especialistas alertaram que essa mudança pode ter comprometido a integridade da estrutura. O perito Laércio de Oliveira Silva Filho destacou que o reforço aplicado foi arrancado “como fita crepe” no momento do colapso, sublinhando a fragilidade da obra.
Alertas Ignorados e Consequências Trágicas
Relatórios anteriores já haviam levantado questões sobre a segurança da ponte. Um documento de 2020, encomendado pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), classificava a estrutura como “sofrível e precária”, recomendando intervenções urgentes. Em 2024, uma licitação foi realizada para obras de reparo, mas não obteve sucesso, e nenhuma intervenção foi feita antes do trágico incidente.
O delegado da PF, Allan Reis de Almeida, responsável pela investigação, não hesitou em afirmar que houve omissão por parte de agentes públicos em relação à manutenção da ponte. “Não se trata de um caso fortuito ou força maior. Era algo anunciado e plausível de ocorrer”, enfatizou.
Em resposta à tragédia, o DNIT anunciou que concluiu uma apuração interna e que o relatório foi enviado à corregedoria. O Ministério dos Transportes comunicou que o superintendente regional do órgão no Tocantins, Renan Bezerra de Melo Pereira, foi demitido em abril, embora ele negue qualquer responsabilidade sobre o ocorrido.
Recursos Públicos: Onde Estão?
Apesar do estado crítico da ponte, uma reportagem do jornal O Estado de S. Paulo revelou que o Congresso brasileiro destinou R$ 35,6 milhões em emendas parlamentares para os municípios atingidos pela tragédia. Entretanto, esses recursos foram utilizados em festividades, iluminação e outros projetos, sem que qualquer valor tenha sido destinado para a manutenção ou reforma da ponte que desabou.
A situação levanta questões pertinentes sobre a responsabilidade dos órgãos públicos e a alocação dos recursos, evidenciando um cenário de descaso que pode ter custado vidas. A tragédia da ponte Juscelino Kubitschek não é apenas um alerta sobre a precariedade da infraestrutura no Brasil, mas também uma chamada à ação para melhorar a gestão e a fiscalização de obras públicas em todo o país.