Um Cenário de Dependência
Os Estados Unidos lideram o consumo global de café, e atualmente, grande parte dessa demanda é atendida pelo Brasil, responsável por um impressionante um terço do mercado norte-americano. Essa relação, no entanto, está sob ameaça com a possível implementação de uma tarifa de 50% sobre o café importado do Brasil, anunciada pelo ex-presidente Donald Trump e programada para entrar em vigor em 1º de agosto. Essa medida foi considerada por especialistas como uma ação punitiva que poderia causar um estrago imenso tanto para os consumidores quanto para os importadores americanos.
A proposta de aumento tarifário levanta preocupações sobre a capacidade dos EUA de suprir sua demanda. Os dados são claros: os norte-americanos dependem quase exclusivamente da importação de café, já que a produção interna representa apenas 1% do total consumido. A situação se torna ainda mais crítica quando se considera que o Brasil é responsável por cerca de 40% da oferta global desse grão.
Impactos Diretos no mercado Norte-Americano
Fernando Maximiliano, analista da consultoria StoneX Brasil, destaca que a imposição da tarifa tornaria o comércio entre os dois países “praticamente inviável”. O Brasil não é apenas o maior fornecedor de café dos EUA, mas também é essencial para a estabilidade do preço do grão no mercado norte-americano. Com a tarifa, a indústria de café teria que buscar novos fornecedores, que, por sua vez, não teriam a mesma capacidade de produção.
Atualmente, o Brasil exporta aproximadamente 8 milhões de sacas de café para os EUA, correspondendo a 34% de todas as importações norte-americanas do grão. O que se espera, segundo Maximiliano, é que, se os americanos tiverem que recorrer a outros países, enfrentarão não só uma oferta escassa, mas também preços consideravelmente mais altos.
Comparativo de Produção: Brasil e Colômbia
O exemplo da produção de café arábica, a variedade mais consumida pelos americanos, ilustra bem as dificuldades que os EUA enfrentariam ao tentar substituir o café brasileiro. O Brasil é o maior produtor mundial, com cerca de 40 milhões de sacas por ano, enquanto a Colômbia, segunda na lista, produz apenas entre 12 e 13 milhões. Portanto, a Colômbia não teria a capacidade de suprir a demanda dos americanos caso o Brasil seja retirado do jogo, um cenário que apenas aumentaria os preços para o consumidor final.
Perspectivas e Alternativas para os Exportadores
Os exportadores brasileiros também estão cientes do impacto que uma tarifa de 50% poderia ter em seus negócios. Marcos Matos, diretor-geral do Conselho dos Exportadores de café do Brasil (Cecafé), ressalta que essa situação é uma grande tensão no momento atual. Caso o mercado norte-americano se torne inviável, os exportadores precisarão explorar novos mercados, como China, Índia, Indonésia e Austrália, que já importam café do Brasil, mas que ainda não possuem a capacidade para substituir o volume perdido.
Necessidade de Diálogo e Soluções Diplomáticas
Em resposta a essa potencial crise, várias entidades, incluindo a Associação Brasileira da Indústria de café (Abic), enfatizam a importância da diplomacia. Para eles, o melhor caminho seria buscar diálogo com o governo dos Estados Unidos, algo que já está em andamento através da Associação Nacional de café dos EUA (NCA).
William Murray, presidente da NCA, já declarou que a associação está em contato com a Casa Branca na tentativa de buscar uma solução que evite a aplicação da nova tarifa, que atualmente é de 10%. A esperança é que o bom senso prevaleça, uma vez que muitos analistas concordam que a medida afetaria diretamente o consumidor norte-americano, e não apenas os exportadores brasileiros.