Transformação Sustentável na Produção de Soja
Com foco nas regiões do Acre, Rondônia e Pará, uma nova iniciativa se destaca ao promover a produção de soja sustentável na Amazônia. O projeto, que ainda se encontra em suas etapas iniciais, visa expandir práticas agrícolas regenerativas e, assim, mitigar a pegada de carbono da produção local. A ação está sendo realizada pela Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa do Agronegócio (Fundepag).
Em entrevista ao Agro Estadão, Dennys Biaggi, responsável pelo desenvolvimento de negócios e inteligência de mercado da Fundepag, revelou que a oportunidade surgiu a partir de uma chamada internacional voltada para projetos que combatem o desmatamento na Amazônia. A proposta foi aprovada em abril deste ano e deu início oficial em junho. Biaggi afirmou: “Atualmente, estamos na fase de diagnóstico. Nossa equipe já esteve no Acre e em Rondônia, e na próxima semana, deverá seguir para o Pará”.
A meta do projeto é trabalhar com 75 produtores: sete no Acre, 35 em Rondônia e o restante no Pará, totalizando 60 mil hectares que passarão da produção convencional para a agricultura regenerativa, visando a colheita da safra 2025/26. “Os produtores não são meros participantes; eles são os protagonistas dessa transformação. Sem o comprometimento deles, o projeto não avança”, enfatizou Biaggi, que acrescentou que, embora haja uma inclusão de pequenos produtores, neste momento, a maioria se classifica como médios e grandes.
O papel da Fundepag é fazer a conexão entre pesquisa e mercado, identificando parceiros locais e especialistas, e estruturando a proposta em três etapas: diagnóstico, capacitação e implementação em propriedades-piloto. O financiamento do projeto é oriundo da Jacobs Futura Foundation (JFF), uma instituição filantrópica britânica, embora Biaggi não tenha revelado o valor total dos recursos fornecidos.
Etapas do Projeto de Agricultura Regenerativa
Nesta fase inicial, estão sendo aplicados protocolos de agricultura regenerativa que se baseiam em princípios da economia ecológica. O intuito é gerar uma nota de sustentabilidade para cada propriedade, que varia de 0 a 10, com base em critérios ambientais, sociais e econômicos. “Ao final do diagnóstico, organizaremos workshops para capacitar os produtores, oferecendo orientações sobre novas práticas de manejo e monitoramento”, declarou Biaggi.
Entre as inovações em teste, destacam-se o uso de biochar — um carvão vegetal que retém carbono e melhora a qualidade do solo —, a aplicação de pó de rocha para diminuir a dependência de fertilizantes químicos e a utilização de bioprodutos em substituição a defensivos convencionais. Dados indicam que cada tonelada de biochar aplicada por hectare pode reduzir até 2,2 toneladas de emissões de carbono. “Esses resultados serão monitorados em campo através de um aplicativo em desenvolvimento, o qual também permitirá acompanhar o desempenho dos produtores ao longo do tempo”, detalhou Biaggi.
O projeto, no entanto, não se limita ao suporte técnico. Ele é projetado para preparar os produtores a atender às crescentes exigências do comércio internacional. Um ponto crucial é o Regulamento Europeu de Produtos Livres de Desmatamento (EUDR), a chamada lei antidesmatamento europeia, que exigirá dos importadores a comprovação da origem das commodities agrícolas. Caso não seja adiada, a legislação entrará em vigor até o final deste ano, segundo levantamentos realizados. “A demanda global por soja está aumentando, mas o mercado também exige critérios de sustentabilidade. Aqueles que não se adaptarem perderão espaço”, alertou o executivo.
A parceria da Fundepag envolve instituições como o Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), a consultoria britânica AgriTIERRA, especializada em transformação digital de cadeias agroalimentares, e a Alauda Consulting, que atua no setor de commodities suscetíveis ao desmatamento. Biaggi destacou: “Um modelo colaborativo é fundamental em projetos dessa magnitude, que enfrentam desafios tanto logísticos na Amazônia quanto na conexão com mercados internacionais”.
Ele ainda enfatizou que os ensinamentos deste piloto poderão servir de base para uma futura expansão para outros estados da Amazônia Legal, caso haja interesse dos financiadores e uma adesão crescente por parte dos produtores. “Estamos diante de uma cadeia que precisa se reinventar, e o produtor brasileiro tem condições de liderar essa mudança, desde que consiga equilibrar competitividade e sustentabilidade”, finalizou Biaggi.