O que é a Ação Palestina?
O Serviço de Polícia Metropolitana de Londres informou à CNN que, embora não possa fornecer um número oficial, a estimativa de participantes em uma recente manifestação gira entre 1.000 e 1.400, número corroborado pelos organizadores do evento. Entretanto, cerca de 150 prisões foram efetuadas, relacionadas a diversos crimes, como agressão a agentes da lei e apoio a uma organização proibida.
Durante a manifestação, as forças policiais abriram caminho entre a multidão para realizar as detenções, enquanto alguns manifestantes expressavam sua indignação gritando “vergonha”. Os organizadores do protesto acusaram a polícia de tentar desviar a atenção de suas próprias ações violentas, colocando a culpa nos manifestantes.
A Ação Palestina é uma entidade com sede no Reino Unido, cujo propósito é interromper as atividades de fabricantes de armamentos vinculados ao governo israelense. Fundada em 2020 por Huda Ammori e pelo ativista climático Richard Barnard, a organização ganhou notoriedade ao buscar encerrar as operações da Elbit Systems, o principal fabricante de armas de Israel. O grupo se comprometeu a “acabar com a participação global no regime genocida e de apartheid de Israel”.
A Elbit Systems UK, que está concorrendo a um contrato de 2 bilhões de libras com o Ministério da Defesa britânico, não respondeu imediatamente às perguntas da CNN sobre a Ação Palestina, mas declarou que “a segurança nacional é a prioridade” e que se orgulha da colaboração com as forças armadas britânicas.
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Ações e Repercussões
Desde a sua criação, a Ação Palestina tem se envolvido em uma série de ações diretas, como ocupações, bloqueios e até vandalismos nas instalações da empresa franco-israelense UAV Tactical Systems e da gigante de armamentos Leonardo. Uma das ações mais polêmicas ocorreu em junho deste ano, quando ativistas invadiram a RAF Brize Norton, a maior base aérea do Reino Unido, e vandalizaram dois aviões de reabastecimento Airbus Voyager. Este incidente foi crucial para a decisão do governo britânico em proibir a organização.
Alguns dias depois, a então secretária do Interior britânico, Yvette Cooper, declarou a Ação Palestina como um grupo terrorista, comparando-a a organizações como Hamas, Al Qaeda e Estado Islâmico. Essa decisão gerou reações negativas de especialistas das Nações Unidas, grupos de direitos humanos e até mesmo de alguns políticos, que questionaram a medida.
Por que o governo britânico proibiu a Ação Palestina?
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De acordo com o governo do Reino Unido, a Ação Palestina ultrapassou o limite do protesto pacífico, sendo rotulada como um grupo que realiza atos de sabotagem. A então secretária do Interior argumentou que a proibição era necessária para proteger a segurança nacional, alegando que a Ação Palestina não se comporta como uma organização pacífica e possui um histórico de “danos criminais inaceitáveis”.
Além disso, as autoridades britânicas já monitoravam a Ação Palestina há algum tempo. Uma análise governamental independente que ocorreu em maio de 2024, por exemplo, comparou a Ação Palestina e o grupo de ativistas climáticos Just Stop Oil a “grupos terroristas”. O autor do relatório, John Woodcock, defendeu que a proibição tornaria mais difícil o planejamento de atividades criminosas por parte de ativistas e propôs que essa abordagem deveria ser estendida a outros grupos de protesto considerados extremistas.
Woodcock também havia sido consultor remunerado de grupos que representam a indústria de armamentos e de combustíveis fósseis, defendendo a ideia de que não se deve infringir a lei e aterrorizar trabalhadores innocentes.
Críticas à Proibição
Defensores das liberdades civis em todo o Reino Unido e além têm criticado a designação da Ação Palestina como um grupo terrorista. Eles alertam que a aplicação das leis antiterrorismo a um grupo que promove protestos pode comprometer a liberdade de expressão e representar um risco significativo ao direito de manifestação.
A Amnesty UK descreveu a decisão como “um exagero jurídico perturbador”, argumentando que as leis existentes seriam suficientes para lidar com os danos materiais sem necessitar de um rótulo terrorista. Além disso, a organização também alega que a proibição poderia silenciar a expressão de todo o movimento pró-palestino, uma afirmação que o governo britânico nega.
Em julho, Volker Turk, chefe dos direitos humanos da ONU, pediu a revogação da proibição, expressando preocupações de que as leis antiterroristas do Reino Unido estivessem sendo aplicadas a comportamentos que não se enquadram na definição de terrorismo, o que poderia restringir o exercício legítimo de liberdades fundamentais.