As cortinas se abriram para um espetáculo de horrores na Câmara dos Vereadores de rio branco, onde a busca desesperada por votos conservadores está levando alguns parlamentares a ultrapassarem limites civilizatórios. Em um cenário alarmante, discursos repulsivos e projetos de leis polêmicos têm sido apresentados, desmerecendo um dos pilares fundamentais da democracia: o parlamento. A semana passada trouxe à tona um episódio estarrecedor, quando o vereador N. Lima (PP) fez declarações infelizes, associando o termo “macumba”, uma expressão pejorativa usada para se referir a religiões de matrizes africanas, ao diabo. Essa fala, repleta de intolerância e preconceito, gerou uma onda de repúdio, com quatorze entidades representativas de diversas vertentes religiosas se manifestando contra suas palavras.
A repercussão negativa foi imediata, e o vereador foi amplamente criticado por suas declarações que evidenciam um preocupante nível de intolerância e racismo religioso. Em uma tentativa de minimizar o impacto de suas palavras, N. Lima se justificou, alegando que sua intenção era criticar “satanistas” e não as práticas de umbandistas e candomblecistas. No entanto, essa justificativa não ressoou, sendo amplamente descreditada. A situação se agravou quando o Ministério Público do acre (mpac) anunciou a abertura de um inquérito policial para investigar possíveis crimes de intolerância e racismo religioso cometidos por N. Lima, uma ação que muitos consideram apropriada diante da gravidade do ocorrido.
O discurso polêmico do vereador estava em defesa de um projeto de lei (PL) proposto por Arnaldo Barros (Podemos), que sugere a inclusão da Bíblia como livro paradidático nas escolas. Essa proposta, além de ser vista como mais uma aberração, ignora a pluralidade religiosa presente em rio branco e ameaça a laicidade do Estado, levantando sérias questões sobre sua constitucionalidade. O projeto parece ser uma tentativa deliberada de conquistar o eleitorado conservador, alimentando a narrativa da “guerra cultural” que polariza a sociedade em “nós” contra “eles”, em busca de capital político e eleitoral.
A federação das Religiões de Matriz Africana do acre (Feremaac) fez uma declaração importante em suas redes sociais, criticando o projeto de lei excludente. A federação ressaltou que argumentos como a predominância cristã da população ou a presença histórica da religião nas escolas não justificam a imposição de uma única fé sobre as demais. Para que o estudo da religião nas escolas seja verdadeiramente educativo, ele deve ser inclusivo e respeitar todas as tradições religiosas. Essa posição é essencial para promover um ambiente de respeito e aprendizado, sem discriminação.
Um ponto preocupante é que, para a elaboração do PL, Arnaldo Barros não buscou a opinião de representantes de outras denominações religiosas no estado, fechando-se apenas a pastores evangélicos, o que evidencia uma falta de diálogo e respeito pela diversidade religiosa que caracteriza o acre. Em um estado tão rico em tradições, como o berço do Santo Daime e com uma forte ancestralidade indígena, é imprescindível que todas as vozes sejam ouvidas. As comunidades religiosas, incluindo terreiros de umbanda e candomblé, têm um papel fundamental na construção de uma sociedade plural e respeitosa.
As escolas devem ser espaços de produção de conhecimento científico e não de pregação religiosa. Fé e religião são questões pessoais que devem ser tratadas no âmbito familiar e nas comunidades religiosas, que são numerosas em nossa cidade. Em meio a esse cenário controverso, não podemos deixar de mencionar outro projeto que vem gerando polêmica: uma proposta de autoria de João Marcos Luz (PL) que visa proibir a participação de menores na Parada LGBT. Essa iniciativa, assim como as anteriores, reflete a necessidade de um debate mais amplo e respeitoso sobre a diversidade e os direitos humanos.
Neste contexto, é vital que a sociedade se una para defender a pluralidade e a laicidade do Estado, garantindo que todos os cidadãos possam expressar livremente suas crenças e identidades. O respeito à diversidade é um dos pilares que sustentam a democracia e a convivência pacífica entre diferentes grupos sociais. A luta contra a intolerância e o preconceito deve ser uma prioridade em rio branco e em todo o Brasil, para que possamos construir um futuro mais justo e igualitário para todos.