As cortinas se abriram para um espetáculo de horrores na Câmara dos Vereadores de rio branco, onde a busca desesperada por votos conservadores tem levado alguns parlamentares a ultrapassarem limites éticos e civilizatórios. Em um ambiente que deveria ser sagrado para a democracia, temos assistido a discursos chocantes e à apresentação de projetos de lei polêmicos e oportunistas, que desvirtuam a função do parlamento. Recentemente, os membros das religiões de matriz africana se viram em choque ao ouvirem o vereador N. Lima (PP) associar de forma infeliz o termo “macumba” ao diabo, um ato que levanta sérias questões sobre intolerância religiosa.
A declaração do vereador causou grande repercussão negativa, sendo amplamente criticada por diversas organizações que representam a pluralidade religiosa, totalizando quatorze entidades que se manifestaram contra as falas de N. Lima. A reação foi imediata e intensa, com acusações de racismo e intolerância religiosa sendo direcionadas ao parlamentar. Ao perceber a gravidade de suas palavras, N. Lima tentou se defender, alegando que sua intenção era criticar apenas os “satanistas”, mas essa justificativa não foi bem recebida e não conseguiu amenizar a repercussão negativa.
O Ministério Público do acre (mpac) decidiu agir e já requisitou a abertura de um inquérito policial para investigar os supostos crimes de intolerância e racismo religioso atribuídos a N. Lima. Essa resposta institucional é um passo importante na luta contra a discriminação e a promoção do respeito à diversidade religiosa.
Vale destacar que o discurso de N. Lima ocorreu em defesa de um projeto de lei apresentado pelo vereador e pastor Arnaldo Barros (Podemos), que propõe a inclusão da Bíblia como livro paradidático nas escolas. Este projeto, além de controverso, ignora a pluralidade religiosa que caracteriza a sociedade de rio branco, ferindo o princípio da laicidade do estado e levantando questões sobre sua constitucionalidade.
A proposta é claramente uma tentativa de apelar ao eleitorado conservador, alimentando uma narrativa de “guerra cultural” que divide a sociedade em “nós contra eles”. A Federação das Religiões de Matriz Africana do acre (Feremaac) levantou um ponto pertinente ao se manifestar contrária a essa iniciativa. A entidade ressaltou, em suas redes sociais, que a maioria cristã da população e a presença histórica da religião nas escolas não justificam a imposição de uma única fé. O ensino das religiões deve ser inclusivo, respeitando todas as tradições.
Uma questão alarmante é que o vereador Arnaldo Barros não incluiu representantes de outras denominações religiosas na elaboração do projeto, restringindo-se ao diálogo com pastores evangélicos. Isso evidencia uma falta de consideração pela diversidade religiosa presente no estado. O acre, com sua rica herança cultural que inclui o Santo Daime e diversas tradições indígenas e afro-brasileiras, não pode aceitar propostas que desconsiderem a pluralidade.
As escolas são espaços de aprendizado e produção de conhecimento científico, e não devem servir como palcos para pregações religiosas. A fé e a religião são questões pessoais que devem ser discutidas em casa e nos templos, onde a liberdade de crença pode ser plenamente respeitada.
Por fim, não podemos deixar de mencionar o projeto de lei proposto por João Marcos Luz (PL), que visa proibir a participação de menores na Parada LGBT. Essa iniciativa se alinha ao mesmo padrão de discriminação e intolerância, representando uma afronta aos direitos humanos e à diversidade.
O que estamos presenciando na Câmara dos Vereadores de rio branco é um verdadeiro show de horrores que precisa ser urgentemente confrontado. A sociedade deve se mobilizar e exigir respeito à diversidade, promovendo um diálogo construtivo que valorize a inclusão e a coexistência pacífica entre diferentes crenças e tradições. É fundamental que todos os segmentos da sociedade sejam ouvidos e que os espaços de decisão reflitam a pluralidade que caracteriza o nosso estado. A luta contra a intolerância e a discriminação deve ser uma prioridade, assegurando um futuro mais justo e igualitário para todos.