Decisão Judicial e Suas Implicações
Na última segunda-feira (24), o juiz David Kasa tomou uma decisão significativa ao anular os trabalhos referentes ao Caso Senkata. O magistrado determinou que o processo seja encaminhado à Procuradoria-Geral do Estado, com o intuito de abrir um julgamento de responsabilidades contra a ex-presidente boliviana Jeanine Áñez. Essa medida ocorre após a defesa de Áñez questionar a competência da justiça comum, argumentando que, por se tratar de uma ex-chefe de Estado, o caso deveria ser analisado em uma instância especial.
O Caso Senkata investiga a morte de ao menos dez pessoas que perderam a vida durante os protestos violentos que eclodiram em 19 de novembro de 2019, em meio à crise política desencadeada pela renúncia de Evo Morales e pela consequente posse transitória de Áñez. Além da anulação das medidas cautelares impostas a outros réus, a decisão do juiz representa um divisor de águas no tratamento judicial de ex-mandatários na Bolívia.
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A Libertação e Seus Repercussões
Na terça-feira (26), a ex-presidente Jeanine Áñez, assim como outros opositores, como Luis Fernando Camacho e Marco Antonio Pumari, recuperaram a liberdade em decorrência da decisão judicial que declarou a incompetência da justiça ordinária para processá-los. O tribunal acatou o pedido de habeas corpus da defesa, encaminhando o caso para que o Ministério Público inicie um potencial julgamento de responsabilidades por vias alternativas.
Os eventos de 2019 em Senkata, região de El Alto, foram marcados por confrontos que resultaram em mortes durante a turbulência política que proporcionou a ascensão de Áñez ao cargo de presidente. Desde o início, a defesa de Áñez alegou que as acusações contra ela eram motivadas por perseguição política. Em um discurso emocionado após a libertação, a ex-presidente declarou: “Este dia será lembrado pela história e um passo foi dado em direção a uma Bolívia mais justa e mais livre. Que viva a Bolívia!”. Essa declaração reflete a esperança de um futuro mais positivo em meio ao cenário complexo da política boliviana.
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Reações à Decisão Judicial
A libertação de Áñez atraiu a atenção da líder opositora venezuelana Maria Corina Machado, que classificou a ação como um “ato de justiça”. Em suas declarações, Machado enfatizou que Áñez e os demais opositores nunca deveriam ter sido encarcerados, caracterizando a detenção como um exemplo claro de “perseguição política”.
Maria Corina Machado, que também enfrenta desafios políticos na Venezuela, se manifestou em um texto emocionado, ressaltando: “O testemunho que nos foi dado durante sua injusta prisão, a firmeza de suas convicções, sua resistência e amor pela Bolívia nos reafirmam em nossa luta”. A líder venezuelana expressou ainda solidariedade, afirmando: “Recebam a força, o respeito e o carinho dos venezuelanos que assumimos a luta pela democracia da Bolívia como nossa”.
A recente decisão judicial boliviana demonstra a fragilidade da linha entre justiça e política no país, refletindo um ambiente de contínuas tensões. Com o Caso Senkata agora sob a análise do Ministério Público, o futuro judicial de Jeanine Áñez e outros envolvidos permanece incerto e pode aprofundar ainda mais as divisões políticas na Bolívia.