A Vigilância é Fundamental na Luta Contra a Dengue
A dengue, que se consolidou como a principal endemia urbana no Brasil desde os anos 80, apresenta flutuações em seus casos, que seguem um padrão sazonal ligado à temperatura e à umidade, além de ciclos mais longos de 3 a 5 anos. Esses padrões são influenciados pela introdução de novos sorotipos, a efetividade das ações de controle, a mobilidade populacional e as mudanças climáticas. Em 2024, o Brasil enfrentou a mais severa epidemia de dengue já registrada, com aproximadamente 6 milhões de casos notificados. Em resposta, o Ministério da Saúde reativou o Centro de Operações de Emergência (COE) no começo de 2025 e lançou um Plano de Contingência Nacional, que delineia as responsabilidades e as ações a serem implementadas em cada nível de governo — federal, estadual e municipal.
Cada esfera do Sistema Único de Saúde (SUS) deve desenvolver um plano adaptado às particularidades locais, com intervenções proporcionais à gravidade da situação em seu território. As ações primordiais incluem i) vigilância epidemiológica, que utiliza ferramentas para monitorar casos e a circulação do vírus; ii) controle do vetor, focando no combate ao mosquito Aedes; iii) estruturação da rede de assistência por meio da capacitação dos profissionais e organização dos serviços; iv) comunicação e mobilização social, com o intuito de informar e engajar a população.
A implementação dessas medidas requer uma forte integração entre diferentes níveis de governo e a sociedade civil, promovendo uma articulação intersetorial que envolva áreas como obras, limpeza urbana, comunicação, meio ambiente, instituições educacionais, associações de classe e meios de comunicação.
Desafios no Acre e Novas Tecnologias no Combate à Dengue
No Acre, foram registrados cerca de 8 mil casos de dengue no último ano, colocando o estado como o segundo maior em coeficiente de incidência do país, com 884 casos a cada 100 mil habitantes, perdendo apenas para São Paulo. Diante desse cenário, o desafio torna-se monumental.
Com a aproximação de novos avanços, como a vacina aprovada em 2023 e a introdução de mosquitos infectados pela bactéria Wolbachia, espera-se uma contribuição significativa no combate à dengue. A inauguração da fábrica desses mosquitos e a criação de estações para disseminação de larvicidas também são ações com grande potencial de impacto positivo. Apesar do avanço tecnológico, um conceito fundamental se mantém: as estratégias de controle da dengue são muito mais eficazes quando implementadas antes do período chuvoso, ou seja, na fase pré-sazonal. Esperar pelo aumento dos casos é considerado “correr atrás do prejuízo”. Portanto, o momento de se preocupar e de agir é agora, antes que a situação se agrave.
Thor Dantas, infectologista e professor da Universidade Federal do Acre (Ufac), além de médico da Secretaria de Saúde do Acre (Sesacre), ressalta a importância de um planejamento estratégico e coordenado para enfrentar essa endemia que, ao longo das décadas, tem impactado severamente a saúde pública no Brasil.