Preocupações com a Tarifa Extra
A recente imposição de uma tarifa adicional de 50% sobre produtos brasileiros pelo presidente dos EUA, Donald Trump, gerou apreensão entre os produtores de tilápia de Mato Grosso do Sul. Esta medida, impactando diretamente o setor de piscicultura, coloca em risco a principal rota de exportação da carne de tilápia, que se dirige majoritariamente aos Estados Unidos.
Segundo a Federação das Indústrias de Mato Grosso do Sul (FIEMS), impressionantes 99,6% da tilápia produzida no estado é voltada para o mercado norte-americano, resultando em transações que alcançaram US$ 3,2 milhões, o maior volume desde 2019. O estado, que ocupa a 5ª posição na produção de tilápia no Brasil, segundo o Anuário da Piscicultura 2024 da Peixe BR, agora se vê em uma situação delicada.
Negociações em Andamento
Em busca de minimizar os prejuízos causados pela nova tributação, os exportadores estão tentando renegociar contratos com seus parceiros americanos. “Estamos dialogando com nossos clientes para encontrar soluções que causem o menor impacto possível. A incerteza está no ar: teremos que ajustar preços ou será que eles repassarão parte do custo aos consumidores?” questionou José Charl Noujaim, gerente de exportação de uma indústria local.
Leia também: Tarifa de Trump Ameaça Exportações de Mel Orgânico do Piauí: Entenda as Diferenças com o Mel Convencional
O clima de incerteza não afeta apenas os tilapicultores, mas também se estende à indústria pecuária do estado. A produção de carne direcionada aos EUA foi suspensa, embora a produção nacional permaneça em níveis normais.
Possíveis Benefícios para o Mercado Interno
Noujaim observou que, embora os consumidores brasileiros possam se beneficiar de preços mais baixos nas prateleiras, a situação é preocupante para os produtores. “O consumidor, de certa forma, sairá ganhando, mas isso pode afetar a produção. A indústria precisará reprogramar toda a produção para ajustar a oferta, e a redução de preços pode tornar-se inviável, já que não cobre os custos de produção”, detalhou.
Com aproximadamente 25% da produção mensal de tilápia do frigorífico onde trabalha Noujaim sendo destinada aos EUA, essa situação representa cerca de 250 toneladas. O filé de tilápia resfriado, que é cuidadosamente produzido e enviado rapidamente, pode sofrer grandes impactos devido aos altos custos logísticos. “Se tivermos que arcar com o armazenamento e vender a preços abaixo do custo de produção, a viabilidade da operação estará em risco”, concluiu.
O Crescimento da Piscicultura em MS
Leia também: Tarifa de Trump Ameaça Exportações de Mel Orgânico do Piauí: Entenda as Diferenças com o Mel Convencional
Mato Grosso do Sul, atualmente o 5º maior produtor de tilápia no Brasil, e o 8º em peixes de cultivo, tem mostrado um progresso notável nos últimos anos. O uso de tecnologia, incentivos governamentais e a qualificação profissional têm promovido avanços significativos no setor, conforme indica o Anuário da Piscicultura 2024.
Entre janeiro e agosto de 2024, o estado registrou um abate de 16,8 milhões de peixes, o que representa um aumento de quase 67% em relação ao mesmo período do ano anterior. Porém, a suspensão das exportações para os EUA trouxe preocupações adicionais para a indústria local.
Impactos na Carne Bovina
Além da tilápia, a produção de carne bovina também foi afetada. Os frigoríficos em Mato Grosso do Sul suspenderam a produção destinada aos EUA, decidiu o Sindicato das Indústrias de Frios, Carnes e Derivados. Segundo Alberto Sérgio Capucci, vice-presidente do sindicato, essa interrupção foi uma medida logística para evitar o acúmulo de estoques indesejados. “Se eu produzir e despachar carne agora, ela chegará aos EUA já com a nova taxação. Esse movimento inviabiliza financeiramente a operação”, explicou.
De acordo com informações do sindicato, pelo menos quatro frigoríficos interromperam a produção para o mercado americano. A JBS, Naturafrig, Minerva Foods e Agroindustrial Iguatemi são os principais afetados. Apenas o Naturafrig se manifestou oficialmente, alegando que cerca de 5% de sua produção é destinada aos EUA.
Olhando para Novos Mercados
Como alternativa, o secretário de Meio Ambiente e Desenvolvimento Econômico do estado, Jaime Verruck, mencionou que países como Chile e Egito estão sendo considerados como novos mercados para a carne bovina sul-mato-grossense. Essa redirecionamento, no entanto, requer cuidado e estratégias para assegurar a competitividade no preço.
“As exportações podem criar um excesso de oferta no mercado interno, portanto, uma queda nos preços é provável, afetando os produtores também”, concluiu Verruck, reforçando a complexidade do cenário atual.