Impactos da Tarifa sobre as Exportações de mel orgânico
As exportações de mel orgânico do Piauí para os Estados Unidos enfrentam um cenário preocupante com a possibilidade de uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, prevista para entrar em vigor em 1º de agosto. A medida, anunciada por Donald Trump, pode levar a uma queda significativa nas vendas desse produto no mercado norte-americano, afetando especialmente os pequenos produtores que dependem dessa atividade para sua subsistência. Em entrevista ao g1, Darcet Costa Souza, professor titular da Universidade Federal do Piauí (UFPI) e especialista em apicultura, destacou que a imposição dessa tarifa representa uma séria ameaça. ‘A consequência imediata será a redução nas importações, o que deve desencadear uma diminuição no consumo do nosso mel e, por consequência, afetar a remuneração dos produtores’, afirmou Souza. Ele alertou que os pequenos apicultores sentirão os efeitos de forma mais intensa, já que, para muitos deles, a apicultura é a principal fonte de renda na região.
O Mercado de mel orgânico e a Dependência do Consumo Americano
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Atualmente, os Estados Unidos são responsáveis por aproximadamente 80% do mel brasileiro consumido. O Piauí, em particular, liderou em 2024 a lista de exportações do produto para o país. Porém, o recente anúncio de Trump, feito no dia 9 de agosto, levou ao cancelamento imediato de encomendas significativas. Segundo Souza, a produção de mel orgânico no Piauí se destaca por ser resultante de práticas de manejo sustentáveis, a maioria realizada em áreas de mata nativa e por pequenos apicultores. ‘Além do reconhecimento do Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) como um produto certificado, o mel do Piauí conta com uma certificação social que favorece sua comercialização. Importadores norte-americanos tendem a valorizar a origem e a produção do que compram’, explicou o especialista.
Diferenças entre mel orgânico e Mel Convencional
Com mercados de exportação que incluem Estados Unidos, Canadá, Reino Unido e países europeus, o mel do semiárido piauiense é resultado de práticas que respeitam o meio ambiente e a saúde pública. Como destaca Souza, o mel orgânico é produzido dentro de um sistema de produção regulamentado, que exige uma série de critérios a serem seguidos: ‘Isso o diferencia da agricultura convencional, que utiliza adubos e pesticidas. Para que o mel seja considerado orgânico, as colmeias devem estar localizadas a um mínimo de três quilômetros de áreas que tenham uso de insumos químicos’, comentou. ‘Se abelhas coletam néctar em plantações de eucalipto tratadas com produtos químicos, essa produção não é considerada orgânica.’ No mundo, existem poucas regiões que conseguem atender aos critérios de produção de mel orgânico, o que torna seu valor de mercado ainda mais elevado.
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Crescimento da Demanda por Alimentos Orgânicos
Souza também observa que a demanda por alimentos orgânicos no Brasil tem aumentado, impulsionada pela crescente conscientização dos consumidores sobre saúde e sustentabilidade. ‘O mel orgânico é um alimento que apresenta um risco muito baixo à saúde, devido à ausência de resquícios de agrotóxicos. Estudos têm demonstrado a presença de pesticidas em produtos convencionais. Após a pandemia de Covid-19, essa busca por alimentos mais saudáveis se intensificou’, ressaltou o professor.
Estratégias para Enfrentar a Tarifa
Para lidar com a tarifa elevada de 50% sobre os produtos brasileiros, os exportadores de mel estão explorando alternativas. A Central de Cooperativas Apícolas do Semiárido Brasileiro (Casa Apis) está considerando a divisão do custo da tarifa com os importadores norte-americanos. ‘Nossas opções incluem negociar uma divisão da tarifa ou, caso sejamos nós a arcar com ela, teremos que aumentar o preço do mel em dólar para compensar esse gasto, pois não conseguimos suportar a tarifa e manter a viabilidade dos negócios’, afirmou Sitônio Dantas, presidente da Casa Apis. O setor está preocupado com a possibilidade de uma queda significativa nas exportações e um aumento nos custos logísticos. Desde o anúncio da tarifa, o Piauí já enfrentou problemas em duas grandes operações de exportação, incluindo 585 toneladas de mel orgânico do Grupo Sama e 95 toneladas da Casa Apis, que só conseguiram embarcar após negociações com seus compradores.