O Efeito da Tarifa de 50% na Embraer
A Embraer, uma das principais fabricantes de aeronaves do Brasil, está enfrentando sérios desafios devido às tarifas de 50% impostas pelo governo dos EUA. Com uma significativa porção de sua receita proveniente dos Estados Unidos, a empresa espera um impacto de até R$ 20 bilhões até 2030. O presidente da Embraer, Francisco Gomes Neto, e analistas do mercado financeiro, como Alberto Valerio do UBS BB, ressaltam que tais tarifas podem elevar consideravelmente os preços das aeronaves, dificultando a competitividade da empresa.
Os contratos de venda de aeronaves frequentemente estipulam que as companhias aéreas arcam com as tarifas de importação, o que pode inviabilizar o negócio para muitas delas. “O mercado de aviação não é extremamente lucrativo, e as empresas operam com margens financeiras limitadas”, afirma Valerio. De acordo com a Embraer, a imposição dessa tarifa resultará em um custo adicional de aproximadamente R$ 50 milhões por unidade, um aumento que pode levar as companhias a reconsiderar seus pedidos.
“Esse aumento de custo é exorbitante. É improvável que uma companhia aceite arcar com uma tarifa tão elevada”, destacou Gomes Neto em conversa com a imprensa, enfatizando o potencial impacto adverso nos pedidos e entregas de aeronaves.
Consequências e Ajustes Necessários
A expectativa é que, dada a incerteza gerada pelas tarifas, algumas empresas possam cancelar ou adiar pedidos anteriormente feitos. Gomes Neto alertou que isso poderá levar a uma revisão no planejamento de produção da Embraer, resultando em uma diminuição nos investimentos, queda na receita e impacto negativo no fluxo de caixa, além da necessidade de uma potencial reavaliação na força de trabalho.
A Embraer projeta que só neste ano, as tarifas podem gerar um custo de R$ 2 bilhões, que pode se acumular em até R$ 20 bilhões até 2030. Gomes Neto comparou a gravidade da situação atual aos desafios enfrentados durante a pandemia de Covid-19, quando a empresa registrou uma queda de 30% nas receitas e teve que demitir cerca de 20% de seus funcionários.
Dificuldades em Redirecionar Vendas
Uma questão-chave levantada por analistas e pelo presidente da Embraer é a dificuldade em redirecionar vendas de aeronaves destinadas ao mercado americano para outros países. Gomes Neto explicou que “aviões não são mercadorias comuns”. Um percentual significativo das aeronaves fabricadas pela Embraer é projetado especificamente para atender às exigências do mercado dos EUA, o que limita a capacidade de reposicionar esses produtos.
“Cerca de 35% a 36% dos nossos aviões foram desenvolvidos para o mercado norte-americano”, comenta Valerio, sublinhando a baixa demanda desses modelos em outros mercados. Em resposta à crise das tarifas, Gomes Neto destacou que a Embraer está explorando alternativas, como a possível ampliação da produção nos EUA, embora tal investimento necessite de uma análise mais aprofundada e seja mais viável para jatos executivos em vez de aeronaves comerciais.
Os Riscos da Lei de Reciprocidade Econômica
Outro desafio que a Embraer pode enfrentar é a aplicação da Lei de Reciprocidade Econômica, que permitiria ao governo brasileiro retaliar as tarifas impostas pelos EUA. Gomes Neto alertou que cerca de 45% dos custos de produção da Embraer dependem de componentes americanos. Se a lei for aplicada, a empresa poderá enfrentar custos aumentados tanto para a exportação de suas aeronaves quanto para a importação de insumos.
“Se o governo decidir aplicar a Lei de Reciprocidade, pode ser o fim da linha”, adverte Valerio, enfatizando a necessidade de alternativas para manter a competitividade no mercado global.
As Negociações em Curso
A recente decisão de impor tarifas de 50% surpreendeu o setor. O vice-presidente do Brasil, Geraldo Alckmin, realizou reuniões com empresários para discutir os efeitos da medida. Os participantes solicitaram que o governo busque negociar um adiamento de até 90 dias para a implementação da tarifa, a fim de permitir que a indústria se ajuste a essa nova realidade. No entanto, o governo não tem planos de solicitar tal adiamento.
Além disso, a Câmara de Comércio dos EUA e a Amcham no Brasil emitiram uma declaração conjunta pedindo uma negociação de “alto nível” entre os dois países, alertando que a tarifa pode ter um impacto adverso sobre produtos essenciais. Gomes Neto, que participou das reuniões, expressou otimismo quanto a uma eventual negociação, citando precedentes favoráveis em acordos anteriores entre os EUA e outros países.
Com um esforço contínuo por parte da Embraer e diálogo ativo com autoridades de alto nível nos EUA, o presidente da empresa continua confiante de que será possível chegar a um entendimento que favoreça ambas as partes.