Uma Viagem ao Passado do Acre
Com frequência, ouvimos a famosa piada: “Aí no Acre tem dinossauro?”. Embora alguns riam e outros não vejam graça, a verdade é que a região esconde um passado fascinante. Entre 12 e 5 milhões de anos atrás, durante o Mioceno Superior — uma época marcada por mudanças climáticas significativas e a evolução de várias espécies —, o Acre abrigava criaturas que lembravam os dinossauros, como o temido Purussaurus brasiliensis.
Para entender mais sobre esse gigante em extinção, a equipe da GAZETA visitou o Museu de Paleontologia da Universidade Federal do Acre (Ufac). O museu, que possui um vasto acervo, exibe permanentemente não apenas jacarés e tartarugas, mas também elefantes, preguiças gigantes e o crânio do Purussaurus brasiliensis, considerado o maior jacaré que já existiu. As portas estão abertas ao público das 9h às 17h, dentro do campus da Ufac em Rio Branco, próximo ao Laboratório de Pesquisas Paleontológicas.
Características do Purussaurus Brasiliensis
Esta impressionante espécie habitou a região amazônica há cerca de oito milhões de anos, podendo alcançar impressionantes 13 metros de comprimento e pesar mais de oito toneladas. No seu habitat, coexistia com uma diversidade de peixes, tartarugas de grande porte, aves e outros mamíferos.
“Se você me perguntar qual o fóssil mais marcante, sem dúvida o Purussaurus se destaca, sendo o maior jacaré que já habitou a Terra. Temos o original, encontrado às margens do Rio Acre, em Assis. E apresentamos uma reconstituição do animal, com aproximadamente 12 metros de comprimento”, explica o professor e pesquisador Edson Guilherme.
O primeiro fóssil do Purussaurus foi descoberto em 1892, nas margens do Rio Purus, em território acreano. O nome “Purussaurus” combina o termo Purus, que remete à localização do achado, e Saurus, que significa réptil em grego.
Fossilização: Um Processo Raro
O professor Guilherme esclarece que a fossilização é um fenômeno extremamente raro, exigindo condições específicas. Após a morte do organismo, é fundamental que ocorra soterramento imediato em um ambiente com baixa umidade. Em locais úmidos, os restos orgânicos se decompõem rapidamente devido à presença de água, oxigênio e micro-organismos decompositores.
“Durante a fossilização, as partes orgânicas são lentamente substituídas pelos minerais do solo. Com o passar do tempo, os ossos se transformam em rochas, interrompendo o processo de decomposição”, detalha o pesquisador.
Atualmente, as condições de umidade e oxigênio em excesso podem dificultar a fossilização. “Sem um soterramento adequado, a fossilização não ocorre”, conclui.
A Riqueza Paleontológica do Acre
Durante o Mioceno Superior, a região do oeste amazônico era inundada, criando um ambiente propício para a fossilização. Após grandes secas, animais e plantas eram rapidamente soterrados em condições ideais.
“A vasta área do oeste da Amazônia e praticamente todo o estado do Acre estavam submersos em água. Havia um sistema fluviolacustre robusto, com rios e lagos interligados, que, em determinado momento entre 23 e 10 milhões de anos, se conectava ao mar do Caribe pela Venezuela e Colômbia. Depois, no Mioceno Superior, essa ligação se fechou, formando a rede de drenagem que conhecemos como bacia do rio Amazonas. Com a secagem desse lago, os animais e plantas eram rapidamente soterrados, favorecendo a fossilização”, explica o especialista.
Novas Descobertas no Acre
Recentemente, pesquisadores do Acre e de São Paulo descobriram, em expedição em Assis Brasil, a carapaça de uma tartaruga gigante que viveu na região há 13 milhões de anos. Antes, esse tipo de achado só havia sido registrado na Colômbia e na Venezuela, tornando a descoberta acreana a terceira do mundo.
“Já conhecíamos partes menores dessa espécie, mas agora encontramos a metade de sua carapaça. A carapaça completa só foi vista na Venezuela e na Colômbia. É uma grande satisfação ver essa parte do animal aqui no Brasil e no Acre, resultado de uma pesquisa colaborativa com a Universidade de São Paulo de Ribeirão Preto e a Unicamp, financiada pelo CNPq”, conclui o professor.