Impactos da Taxação nos Setores Agrícolas
O agronegócio brasileiro enfrenta momentos desafiadores com a recente imposição de tarifas de 50% por parte do presidente americano Donald Trump, que deve entrar em vigor em 1º de agosto. As consequências desta decisão são motivo de preocupação para os produtores, especialmente nos setores de café, suco de laranja e carne bovina. Nos frigoríficos que processam carne para exportação aos Estados Unidos, a produção já começou a desacelerar. A situação levanta a questão: como esse tarifaço impactará as exportações brasileiras de carne bovina?
Desde o inesperado anúncio em julho, a incerteza paira sobre o agronegócio. “Estamos avaliando como reprogramar e redirecionar cargas e produção. Em resposta, as indústrias decidiram interromper temporariamente a produção voltada para os EUA”, afirmou Roberto Perosa, presidente da Associação Brasileira da Indústria de carne bovina (Abiec), em entrevista à DW.
Durante sua visita aos Estados Unidos, Perosa se reuniu com importadores, os quais também se mostraram pegos de surpresa pela decisão. O mercado americano, que já enfrenta desafios devido à seca que afeta a pecuária, pode ver um aumento nos preços da carne, uma vez que a carne brasileira costumava atender a parte significativa da demanda.
Cenário de Tensão no Comércio Internacional
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O Brasil, por sua vez, busca contornar a crise através da diplomacia. O governo evita retaliações e opta por esperar a implementação da tarifa para negociar prazos e percentuais mais favoráveis. Os produtos brasileiros representam cerca de 7% das exportações para os EUA, o que torna essa relação comercial estratégica.
Luís Rua, secretário de Comércio e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), expressou a necessidade de aguardar a poeira assentar. “Se não houver um consenso, o Brasil não aceitará imposições unilaterais”, declarou Rua, enfatizando a soberania do país.
Com a nova administração liderada por Luiz Inácio Lula da Silva, o Mapa informou que foram abertas 393 novas oportunidades de exportação. A Associação Brasileira do Agronegócio (Abag) antecipa que diversos setores produtivos enfrentarão dificuldades, da carne bovina à agroindústria de papel, celulose, suco de laranja e café.
Desafios para o Setor do café
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O setor cafeeiro, já afetado por crises climáticas, se prepara para sentir os efeitos das tarifas. O Brasil, como maior produtor e exportador mundial de café, depende do mercado americano, que é o principal consumidor, com 76% da população consumindo a bebida. Marcos Matos, diretor do Conselho dos Exportadores de café do Brasil (Cecafé), destacou a interdependência entre os países: “O Brasil é essencial para os Estados Unidos, como eles também são para nós. A preocupação é grande, mas ambos os lados precisam um do outro”.
Dados do Cecafé indicam que, do total de 24 milhões de sacas de café consumidas pelos americanos no ano passado, 8,1 milhões vieram do Brasil. Um estudo recente da National Coffee Association revelou que para cada dólar de café importado, a economia americana gera 43 dólares. O café, ao contrário da carne, não é cultivado nos EUA, o que eleva as chances de que entidades e empresas americanas busquem reverter a taxação.
suco de laranja: Um Setor em Risco
O setor de suco de laranja também está em risco devido à nova tarifa. A CitrusBR, associação que representa os exportadores, informou que 41,7% do suco exportado na safra 2024/25 foi destinado aos Estados Unidos. Caso a tarifa seja aplicada, até 72% do valor do produto poderá ser destinado a tributos, inviabilizando as exportações. A CitrusBR alertou que isso poderia gerar interrupções na colheita e desorganização nas fábricas, além de paralisar o comércio.
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Reconfigurações Necessárias
Enquanto os portos brasileiros enfrentam o acúmulo de embarques, com cancelamentos de pedidos por parte de empresas americanas que adquirem 80% da produção nacional de pescados, a situação da carne bovina, uma das principais exportações brasileiras, está em xeque. A expectativa de dobrar as exportações até 2025 já não parece viável. Nos primeiros seis meses de 2023, o Brasil exportou 190 mil toneladas, quase igual ao total do ano anterior.
Perosa, da Abiec, afirmou que o setor está buscando entender a situação para reorganizar a indústria, olhando para novos mercados, especialmente na Ásia e no Oriente Médio. O apoio do governo é fundamental nesse processo, com ações voltadas para minimizar os impactos negativos.