Dados Reveladores sobre a População das unidades de conservação no Acre
Uma pesquisa divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta última sexta-feira (11) revelou que 34.394 pessoas residem em unidades de conservação (UCs) no Acre. Dentre esses moradores, aproximadamente 19,3 mil são homens e 15 mil são mulheres, com uma predominância de 25 mil pessoas se identificando como pardas. Esses números fazem parte do Censo Demográfico 2022, que é o primeiro levantamento detalhado sobre a população dessas áreas no Brasil.
A apresentação dos dados ocorreu no Anfiteatro Garibaldi Brasil, localizado no campus da Universidade Federal do Acre (Ufac), marcando um momento histórico no entendimento das condições de vida nessas regiões. No total, o levantamento indicou que mais de 11,8 milhões de brasileiros habitam unidades de conservação, o que representa 5,82% da população nacional.
Desafios Enfrentados pelos Residentes
Segundo a pesquisa, a esmagadora maioria, cerca de 98,7%, dos habitantes dessas áreas reside em locais classificados como de uso sustentável, como Áreas de Proteção Ambiental (APAs) e reservas extrativistas. Contudo, a realidade enfrentada por essas populações é alarmante. O levantamento apontou que aproximadamente 40% dos moradores de UCs em todo o Brasil vivem sem acesso a água tratada, esgoto ou coleta de lixo.
No Acre, a situação é igualmente preocupante. Entre os dados apresentados, 27,2 mil pessoas dependem de fontes naturais, como rios ou poços, para obter água potável. No que diz respeito ao saneamento, 12,8 mil moradores utilizam fossas rudimentares, e cerca de 8 mil pessoas relataram não ter banheiro ou sanitário em suas residências. Esses números ressaltam a urgência de políticas públicas direcionadas a essas comunidades.
A Importância dos Dados para Políticas Públicas
De acordo com Francisco Damasco, gerente de territórios tradicionais e áreas protegidas do IBGE, a divulgação desses dados é um passo significativo para a formulação de políticas ambientais mais eficazes. “As comunidades tradicionais e pesquisadores sempre buscaram informações sobre a população que reside nas unidades de conservação. Agora, com os dados do Censo Demográfico 2022, temos informações que servirão como base para a melhoria da gestão dessas áreas”, explicou Damasco.
Um exemplo de residente é Júlio Barbosa, presidente do Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), que vive na Reserva Extrativista Chico Mendes. Ele o descreveu como crucial para solucionar problemas estruturais na região. “Na [Reserva] Chico Mendes, estimamos que cerca de 10 mil pessoas vivam aqui. Entre elas, acreditamos que de 500 a mil estão em situação irregular. É essencial que tanto a sociedade civil quanto o governo colaborem para regularizar a situação e restaurar a condição das nossas unidades”, destacou.
Reconhecimento das Reservas Extrativistas
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O Acre tem um papel fundamental nesse contexto, pois foi o berço das reservas extrativistas, criadas a partir da mobilização do movimento seringueiro. Essas reservas não apenas ajudam na preservação ambiental, mas também sustentam o modo de vida de comunidades tradicionais. Damasco salientou que a demora na divulgação desses dados se deve ao aprimoramento dos métodos utilizados pelos institutos responsáveis por mapear essas áreas ao longo dos anos.
“Nos últimos 25 anos, as entidades que produzem os polígonos e mapeamentos das unidades melhoraram significativamente suas abordagens. Isso nos permitiu apresentar dados mais detalhados sobre os limites dessas áreas e, por consequência, realizar um levantamento populacional preciso”, completou.