O impacto das tarifas e as Possibilidades de Redirecionamento
A lista de produtos brasileiros que são exportados para os Estados Unidos é bastante variada, incluindo desde itens básicos como petróleo, suco de laranja e carne bovina, até produtos industrializados de alta tecnologia, como aeronaves. Com a imposição de uma tarifa de 50% por parte do presidente americano, Donald Trump, surge a dúvida: será que a China poderia ser a solução para absorver essa demanda? Afinal, a carne bovina é um dos produtos que o Brasil vende tanto para os EUA quanto para a China.
A tarifa, considerada a mais alta da recente rodada de medidas anunciadas pelo líder americano, afeta mais de 20 países. O novo imposto começará a valer a partir de 1º de agosto, caso não haja um acordo ou recuo por parte do governo dos Estados Unidos.
Especialistas já começaram a analisar o efeito que essa alíquota poderá ter na economia brasileira. O economista e vencedor do Prêmio Nobel, Paul Krugman, destacou que as exportações para o mercado americano representam menos de 2% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil. De acordo com Felipe Camargo, da consultoria Oxford Economics, mesmo com uma possível “retaliação total” do Brasil, essa medida poderia reduzir o PIB em apenas 0,1% até 2026.
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No entanto, setores que possuem um volume significativo de exportações para os Estados Unidos, como o de aviões, autopeças e suco de laranja, poderiam sofrer prejuízos maiores. Diante desse cenário, a questão que se coloca é: o Brasil poderia redirecionar suas exportações para a China?
Diferenças Comerciais entre China e Estados Unidos
Apesar de serem os dois principais parceiros comerciais do Brasil, as importações que cada um realiza têm características bastante distintas. Livio Ribeiro, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), explica que os produtos exportados para os EUA são muito específicos dentro do portfólio brasileiro. Entre eles, estão bens finais, como aviões, e uma considerável quantidade de insumos que são processados nos Estados Unidos antes de chegarem ao consumidor final.
Por outro lado, as exportações para a China estão amplamente concentradas em commodities. Nos primeiros seis meses deste ano, por exemplo, 40% dos US$ 47,7 bilhões exportados para a China foram de soja, enquanto o petróleo representou 19% e o minério de ferro, 17%. Essa diferença é evidente na análise de dados do comércio exterior brasileiro, onde a lista de produtos vendidos para cada país varia enormemente.
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Guilherme Klein, professor da Universidade de Leeds, na Inglaterra, ressalta que entre os produtos que poderiam ser redirecionados à China estão o petróleo, a carne bovina e o minério de ferro. No entanto, alerta que o mercado global já enfrenta um excesso de oferta de minério de ferro, o que tem pressionado os preços para baixo. Assim, mesmo que o Brasil consiga aumentar as vendas para a China, o fará a preços menores.
Implicações Geopolíticas e Comerciais
O cenário é ainda mais complexo quando se considera a natureza das medidas tarifárias. Klein observa que a imprevisibilidade do governo Trump torna qualquer previsão arriscada. A estratégia da China, que pode querer absorver parte do excedente brasileiro, é vista como uma manobra geopolítica, além de uma consideração puramente econômica.
Na última quinta-feira, durante uma entrevista à Rede Record, o presidente Lula afirmou que tentaria negociar com o governo de Trump, mas que também consideraria aplicar uma tarifa recíproca de 50% sobre produtos americanos, caso não chegasse a um acordo.
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Considerações Finais e Setores em Risco
Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior do Brasil, ressaltou que, embora muitos produtos tenham sido excluídos de tarifas anteriores, a incerteza sobre o futuro das isenções permanece. Caso as tarifas de 50% sejam mantidas, as commodities, como petróleo e minério de ferro, podem encontrar novos mercados, mesmo que a preços mais baixos.
Por outro lado, setores mais industrializados, como autopeças e a indústria de aviação, devem ser os mais prejudicados. A Embraer, por exemplo, pode sentir um impacto significativo, com cerca de 60% de sua receita proveniente da América do Norte. Assim, a situação atual destaca não apenas um desafio econômico, mas também uma questão de estratégia comercial e política internacional.