Mudanças no Cenário Econômico Brasileiro
A tarifa de 50% que os Estados Unidos impuseram sobre produtos brasileiros, com vigência a partir de 1º de agosto, já levanta preocupações em diferentes segmentos da economia. Essa nova medida não só impacta grandes exportadores, mas também pode afetar diretamente o consumidor brasileiro.
O g1 conversou com economistas e representantes de setores que mais exportam para os EUA para compreender as possíveis consequências dessa tarifa e como ela poderia alterar os preços de itens essenciais, como combustíveis, carne e até mesmo o popular cafezinho.
Os EUA ocupam o segundo lugar entre os principais destinos das exportações brasileiras, ficando atrás apenas da China. No primeiro semestre de 2024, o Brasil enviou mais de US$ 22 bilhões em produtos para o mercado americano, destacando-se com petróleo, ferro, aço, café, carne bovina e celulose.
Os especialistas acreditam que o setor agropecuário deverá ser um dos primeiros a perceber os efeitos dessa tarifa, embora tenha uma maior capacidade de adaptação. Uma parte significativa da produção destinada aos EUA pode ser redirecionada para o mercado interno, aumentando a oferta e, potencialmente, pressionando para baixo os preços de produtos como café, suco de laranja e carne bovina.
“Itens perecíveis, como o café e suco de laranja, têm dificuldade de serem armazenados, e uma vez que as exportações sejam reduzidas, o excedente retornará ao mercado interno, resultando em uma queda nos preços”, explicou o economista André Perfeito.
Os Efeitos nas Indústrias e a Reação do Setor Produtivo
Enquanto isso, setores industriais como o de aço, equipamentos e produtos químicos são mais vulneráveis a barreiras comerciais. A economista Alessandra Ribeiro destaca que esses produtos, por possuírem alto valor agregado e serem fabricados sob demanda, encontram dificuldades em serem redirecionados rapidamente para o mercado interno.
“Os produtos que podem sofrer mais são os da siderurgia, aeronaves e componentes, como os jatos da Embraer, além de bens de capital dedicados ao setor de energia”, acrescentou Alessandra.
A consequência direta disso pode ser uma diminuição no faturamento das empresas, resultando em ajustes na produção e afetando negativamente o emprego e os investimentos no setor industrial.
“A forma como o setor produtivo reagirá a essa tarifa é crucial. Se houver a percepção de que essa tarifa é permanente, a produção poderá ser ajustada para o mercado interno. Contudo, se a visão for de uma solução temporária, as empresas poderão optar por manter os estoques ou até mesmo reduzir a produção”, avaliou André Perfeito.
Ainda segundo os economistas, se a tarifa se mantiver e causar um impacto significativo nas exportações, o processo de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) poderá ser comprometido. Contudo, Alessandra Ribeiro acredita que o efeito sobre o PIB e o emprego será limitado. Mesmo assim, a balança comercial do Brasil deve sofrer abalos, já que “parte da produção pode ser redirecionada a outros mercados, mas o efeito líquido ainda tende a ser negativo para as exportações”.
Setores Atingidos pela tarifa e suas Implicações
A economista Zeina Latif também avalia que o impacto macroeconômico deverá ser “moderado e de pouca relevância no todo”, já que as exportações para os EUA representam cerca de 2% do PIB, limitando assim o potencial de um impacto generalizado.
A seguir, um panorama dos principais setores que serão afetados pela tarifa de 50%:
- ☕ CAFÉ: exportações para os EUA em 2024: quase US$ 2 bilhões; possível aumento da oferta interna pode resultar em preços mais baixos no Brasil.
- 🥩 CARNE BOVINA: exportações esperadas: US$ 1,6 bilhão; o aumento da oferta interna pode reduzir preços.
- 🍊 SUCO DE LARANJA: exportações: US$ 1,3 bilhão; alta nos custos pode levar a queda nos preços internos.
- 🛢️ PETRÓLEO: exportações: US$ 5,8 bilhões; setor pode redirecionar embarques.
- 🏗️ FERRO e AÇO: exportações: US$ 2,8 bilhões; excesso de oferta pode pressionar preços.
- ✈️ AERONAVES: exportações: US$ 2,4 bilhões; setor pode enfrentar queda nas encomendas.
- 🌳 CELULOSE e MADEIRA: O setor pode enfrentar desafios, mas empresas possuem logística flexível.
- ⚙️ MÁQUINAS e ELETRÔNICOS: exportações: US$ 1,3 bilhão; risco de queda na competitividade.
Leia também: Lula Ameaça Tarifas Recíprocas em Resposta a Trump
O g1 também buscou associações representativas dos setores referidos, mas nenhuma delas se dispôs a comentar, alegando que preferem observar a evolução das negociações entre Brasil e EUA.
Possíveis Retaliações e Consequências Econômicas
Com a carta enviada por Trump ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), fica evidente que uma possível retaliação pelo Brasil poderia levar a um ciclo inflacionário e gerar tensões ainda maiores nas relações comerciais. “Retaliações podem elevar a pressão inflacionária e encarecer produtos importados, além de aumentar as incertezas econômicas”, alerta Zeina Latif.
Por outro lado, André Perfeito enfatiza que a reação do governo será essencial para o futuro econômico. “Optar pela retaliação pode ser prejudicial, já que muitos dos insumos que importamos dos EUA são essenciais para a produção agrícola e industrial.”
Todos os economistas ouvidos concordam que o Brasil deve priorizar acordos comerciais com outras regiões, como a União Europeia e a Ásia, como uma estratégia eficaz diante das tensões com os EUA. “Diversificar parcerias comerciais é fundamental para garantir a estabilidade econômica”, conclui Zeina Latif.