Impacto da Tarifa no Setor de Suco de Laranja
Os Estados Unidos, atualmente, dependem em grande parte do suco de laranja brasileiro, com quase 50% de suas compras provenientes do Brasil. Entretanto, a recente decisão do presidente Donald Trump de impor uma tarifa de 50% sobre as exportações nacionais trouxe incertezas e preocupações ao setor. Com lavouras afetadas por doenças como o greening, além de desastres naturais como furacões e temperaturas extremas, a produção interna dos EUA está em declínio, o que torna a dependência do produto brasileiro ainda mais crítica.
Ibiapaba Netto, diretor-executivo da Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos (CitrusBR), declarou: “Encontrar um fornecedor do porte do Brasil é extremamente difícil, mas a verdade é que o produto se tornou substituível nas prateleiras dos supermercados.” Hoje, os consumidores americanos já pagam uma tarifa fixa de 415 dólares por tonelada do suco brasileiro, além de uma taxa adicional de 10% imposta por Trump em abril, que representa um custo extra de cerca de 308 dólares por tonelada.
Perspectivas de Consumo e Mercados Alternativos
Os preços do suco de laranja já estão elevados nos EUA, e a pressão econômica pode levar os consumidores a optarem por alternativas mais baratas, como refrigerantes e água saborizada, em vez do suco. A expectativa de um aumento na tarifa para 50% pode intensificar esse movimento, resultando em uma possível queda considerável na demanda pelo suco brasileiro.
A maior parte do suco de laranja produzido no Brasil é destinada ao mercado externo, com 41,7% das exportações sendo enviadas para os EUA, seguido pela União Europeia, que absorve 52% do total. Anualmente, cerca de 3 milhões de litros de suco são consumidos nos Estados Unidos, e a perda desse mercado significaria para o Brasil um impacto financeiro de aproximadamente 1,1 bilhão de reais, conforme estimativas da Consultoria Cogo, especializada em agronegócios.
Em resposta à situação, Carlos Fávaro, ministro da Agricultura, revelou que conversou com representantes de diversos setores, incluindo aqueles diretamente ligados ao comércio de suco de laranja, para explorar novas oportunidades de mercado. No entanto, Netto ressalta que é difícil encontrar um substituto para o mercado americano, uma vez que redirecionar exportações para a União Europeia poderia pressionar os preços para baixo, prejudicando a viabilidade econômica das vendas.
Aumentos de Preço e Produção em Queda
Nos últimos anos, os EUA enfrentaram um aumento significativo na dependência das importações de suco de laranja, decorrente da produção nacional em queda livre, causada por fatores climáticos adversos e a propagação da doença greening, que atinge os pomares e compromete tanto a qualidade quanto a produtividade das laranjas. Esta bactéria é transmitida por um inseto, e a Flórida, responsável por 90% da produção de suco de laranja do país, tem sido severamente impactada. A produção norte-americana sofreu uma retração de 28% para a safra 2024/2025.
A alta nos preços do suco é evidente, com uma lata de 473 ml atingindo um preço recorde de 4,49 dólares em fevereiro deste ano. As projeções para a próxima colheita sinalizam que será a menor desde 1986, ano em que o Departamento de Agricultura dos EUA começou a registrar dados sobre a produção.
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Desafios e Oportunidades para o Brasil
Embora a situação nos EUA seja preocupante, o Brasil projeta um incremento na safra de laranja para 2025/2026, com um crescimento esperado de 8% na produção de suco. Apesar de também lidar com os efeitos do greening, a doença parece estar sob controle nesta safra e as condições climáticas melhoraram, resultando em frutas de melhor qualidade.
Estimativas apontam que o Brasil deve representar cerca de 70% da produção mundial de suco neste ano, conforme análises do Itaú BBA. No entanto, com a possibilidade de não ter um mercado suficiente para escoar toda a produção devido à perda do mercado americano, a situação pode se tornar insustentável. Netto alertou: “Esta é uma situação desafiadora que afetará toda a cadeia produtiva, impactando indústrias, produtores e toda a cadeia de suprimentos.”