Novo cenário econômico gera incertezas para a fabricante brasileira de aeronaves
A Embraer, renomada fabricante de aviões brasileira com sede em São José dos Campos (SP), divulgou nesta quinta-feira (10) que está analisando os efeitos da recente decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que estabeleceu uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros. O anúncio, feito na última quarta-feira (9), provocou uma reação imediata no mercado financeiro, com as ações da empresa apresentando queda significativa na bolsa de valores.
As ações da Embraer caíram por volta de 6,88%, alcançando o valor de R$ 72,75, uma mínima que chegou a R$ 71,63. Esse movimento de queda reflete a apreensão do mercado em relação à possível diminuição da demanda por seus produtos, resultante do aumento nos custos de exportação. A companhia está preocupada, pois o incremento nas tarifas pode levar a adiamentos de entregas, comprometendo sua posição no competitivo mercado norte-americano.
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Em um comunicado enviado ao g1, a Embraer destacou que o assunto será discutido em uma conferência interna programada para o início de agosto, onde a empresa deve expor suas análises sobre os impactos da nova medida. “A Embraer informa que está avaliando os possíveis impactos em seus negócios da possibilidade de aumento de tarifa anunciada ontem pelo governo americano sobre os produtos brasileiros, caso o decreto se aplique à indústria de aviação no Brasil. Tais impactos serão abordados em nossa próxima conferência de resultados do segundo trimestre, no dia 05 de agosto”, afirmou a empresa.
Além disso, a fabricante está em diálogo com as autoridades competentes com o objetivo de reverter a alíquota de impostos de importação para o setor aeronáutico. Esse movimento é crucial, principalmente considerando que, segundo o balanço do primeiro trimestre, a Embraer possui 181 aviões comerciais já encomendados por seis companhias aéreas dos Estados Unidos, como American Airlines e SkyWest. O cenário se torna ainda mais complexo com a recente encomenda de 60 aeronaves durante o Paris Air Show, totalizando um contrato estimado em US$ 3,6 bilhões.
Mercado reage à nova realidade tarifária
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A queda nas ações da Embraer não é uma preocupação isolada. O mercado está monitorando atentamente o desenrolar dessa situação, com investidores se perguntando sobre as possíveis consequências de uma nova guerra comercial entre Brasil e Estados Unidos. Um relatório da XP Investimentos destacou que a Embraer é a companhia mais afetada em seu portfólio, com cerca de 24% de sua receita exposta ao mercado norte-americano.
As análises do mercado indicam uma possível queda de 14% a 15% no lucro da empresa, principalmente porque a montagem final dos jatos executivos ocorre na Flórida e a maioria das peças são fabricadas no Brasil. O aumento nos custos pode levar a uma diminuição da demanda e a adiamentos nas entregas. Atualmente, a tarifa de exportação é de 10%, o que representa um custo aproximado de US$ 360 milhões. Com a nova tarifa de 50%, prevista para entrar em vigor em agosto, esse custo saltaria para cerca de US$ 1,8 bilhão, um aumento impressionante de 400%.
A economista Lucy Aparecida de Sousa, integrante do Conselho Regional de Economia, expressou que, embora seja prematuro prever impactos abrangentes, o setor já começou a reagir. “Todo mundo está analisando agora, mas o que tenho ouvido é que pode haver um atraso nas próximas encomendas, à medida que as negociações progridem. É muito cedo para avaliar os efeitos, mas espero que sejam os menos severos possíveis para os trabalhadores”, comentou.
Com esse cenário incerto, a Embraer se vê em um momento decisivo, onde as discussões e estratégias a serem adotadas nos próximos dias poderão definir seu futuro nas exportações e sua saúde financeira no mercado internacional.