tarifas Altas e Expectativas do Setor
No atual cenário, o Brasil está vivenciando um aumento significativo nas exportações de carne bovina para os Estados Unidos. Com um desempenho recorde neste ano, mesmo após a imposição de uma tarifa adicional de 10% por Donald Trump em abril, as expectativas estavam otimistas. No entanto, a recente decisão do presidente dos EUA de aumentar essa taxa para 50%, a partir de 1º de agosto, gerou preocupação no setor. Analistas acreditam que, sem uma renegociação, as vendas brasileiras para os americanos poderão tornar-se praticamente inviáveis.
Os Estados Unidos ocupam a posição de segundo maior comprador da carne bovina brasileira, atrás apenas da China. Dados do Ministério da Agricultura indicam que os EUA respondem por cerca de 15% de todas as exportações de carne do Brasil, enquanto a China absorve quase metade desse volume. Assim, a possibilidade de uma redução nas vendas para o mercado americano não pode ser ignorada e pode direcionar os frigoríficos brasileiros a buscar novas opções, especialmente no mercado asiático.
O Que Está em Jogo para o Brasil
Fernando Enrique Iglesias, analista do Safras, aponta que a inflação do preço da carne bovina nos Estados Unidos está atingindo níveis recordes, impulsionada por uma redução histórica no rebanho americano. Isso fez com que o preço do boi nos EUA chegasse a ser duas vezes maior do que o praticado no Brasil. “Os Estados Unidos não são mais autossuficientes no abastecimento de carne bovina, embora sejam um dos maiores exportadores globais”, observa Carlos Cogo, da Cogo Consultoria.
Atualmente, a Austrália se destaca como o maior fornecedor de carne bovina para os EUA, enquanto o Brasil fornece principalmente para a indústria, não para os supermercados locais. O preço competitivo da carne brasileira até agora pode ser afetado pela nova tarifa, tornando o produto nacional menos atrativo em comparação com a carne australiana e argentina, que devem se tornar mais acessíveis no mercado americano.
Previsões para o mercado Brasileiro
Se a nova tarifa for mantida, o impacto direto esperado será uma queda considerável nas vendas de carne bovina para os Estados Unidos. No entanto, segundo Iglesias, isso não significa que os frigoríficos brasileiros colocarão mais carne no mercado nacional. “Os frigoríficos buscarão direcionar seus produtos para outros mercados internacionais, minimizando os impactos negativos. A boa notícia é que mais de 100 países ainda estão comprando carne do Brasil”, ressalta.
Em um movimento estratégico, a Associação Brasileira da Indústria de Carnes (Abiec) abriu um escritório na China neste ano, o que tem contribuído para a expansão das operações no mercado chinês. Além disso, a nova realidade pode acelerar as negociações com países como Japão e Coreia do Sul, que ainda não importam carne bovina brasileira.
Entendendo a Nova Tarifa
O Brasil possui um acordo que permite a exportação de 65 mil toneladas de carne bovina para os EUA sem tarifas. Contudo, essa cota é rapidamente esgotada no início do ano. Após o término dessa cota, tradicionalmente, os americanos pagavam uma taxa de 26,4% para importações de carne brasileira. Com a imposição da tarifa de 10% por Trump, esse valor subiu para 36,4%. Surpreendentemente, mesmo com essa alta, as exportações dispararam. Entre janeiro e maio, o Brasil exportou 163 mil toneladas de carne bovina para os EUA, um aumento quase três vezes em relação ao mesmo período do ano anterior.
Com a nova tarifa, os americanos deverão pagar uma taxa de 76,4% para importar carne brasileira a partir de agosto. “Essa nova tarifa inviabiliza totalmente nossa exportação para aquele mercado. Muitos frigoríficos estão suspensos, à espera de uma resolução”, comenta um representante da Scot Consultoria. Cogo destaca que ainda há incertezas sobre como a nova tarifa será aplicada, se de forma geral ou apenas sobre o excedente da cota, o que deixa o setor em uma situação de expectativa.