Mudança nas Regras de Outorga da Anatel
A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) tomou uma decisão que promete alterar o cenário dos pequenos provedores de internet no Brasil. A partir de agora, a agência suspendeu a parte do regulamento que isentava esses provedores, com até 5 mil acessos, de obter autorização para operar. Com essa nova norma, as empresas na faixa estipulada terão até o dia 25 de outubro de 2025 para formalizar suas outorgas. Caso contrário, os cadastros serão cancelados e os serviços de internet serão interrompidos, o que pode afetar milhares de usuários.
No estado do Rio de Janeiro, a situação é ainda mais crítica. Segundo dados da Subsecretaria de Inteligência da Secretaria de Segurança Pública, cerca de 80% das empresas de internet em comunidades estão associadas ao crime organizado. Isso mostra como a dispensa de autorização estava sendo utilizada como um mecanismo de receita por organizações criminosas, que operavam por meio de empresas de fachada, ligadas ao tráfico e à milícia.
A Realidade dos Provedores no Rio de Janeiro
Estatísticas da Anatel revelam que existem, no total, 1.734 prestadoras de serviços de internet em todo o estado do Rio de Janeiro. Destas, 822 possuem outorga e 912 operam sob a dispensa. Na capital, as cifras são igualmente alarmantes: há 638 prestadoras, sendo 305 com outorga e 333 isentas. Esses números evidenciam a relevância do setor, mas também a vulnerabilidade que a nova regra pode expor.
A Secretaria de Segurança Pública do estado se manifestou sobre a mudança de regulamentação da Anatel. Segundo a nota divulgada, “eles entenderam a gravidade da situação e realizaram ajustes na resolução, um avanço que pode contribuir significativamente para a diminuição das finanças do crime organizado.” Essa reavaliação na legislação é vista como uma tentativa de abalar a estrutura financeira que sustenta essas organizações.
Mapeamento e Conclusões da Segurança Pública
A Subsecretaria de Inteligência, em um trabalho meticuloso, realizou um mapeamento com base em denúncias recebidas pelo Disque-Denúncia e pela Ouvidoria da Secretaria de Segurança Pública. Utilizando essas informações, a subsecretaria cruzou dados com registros de empresas na Anatel e conseguiu identificar que a exploração de serviços de internet está concentrada em áreas dominadas por grupos criminosos nas 813 favelas do Rio de Janeiro.
De acordo com a Anatel, mais de 40% das empresas, sejam elas autorizadas ou dispensadas de outorga, não enviaram informações sobre acessos em 2024, o que prejudica a competitividade e a sustentabilidade do setor de telecomunicações. É preocupante que, apesar desse cenário, os pequenos provedores tenham sido responsáveis por 53,7% dos acessos à banda larga em 2023, especialmente em áreas com baixos índices de desenvolvimento humano (IDH) e PIB.
Com as novas exigências, a expectativa é que muitos pequenos provedores enfrentem dificuldades para se adequar às regras e possam, assim, perder sua licença para operar. Essa reviravolta legislativa promete não apenas impactar a economia dos pequenos provedores, mas também influenciar diretamente a vida de milhares de brasileiros que dependem desses serviços em áreas vulneráveis do estado. O futuro dos provedores e o acesso à internet nas comunidades agora está em uma encruzilhada, e as próximas decisões tomarão forma nas ruas e nas casas de quem mais precisa.