Ser progressista não significa ser permissivo.
Recentemente, dois nomes chamaram a atenção do brasil: MC Poze do Rodo e Leo Lins. Pessoalmente, não sou fã de funk e também não me identifico com o estilo de humor de muitos comediantes de stand-up atuais. Por conta dessa falta de interesse, posso ser rotulada como “elitista”. No entanto, vivemos em uma sociedade onde é aceitável não conhecer grandes nomes da literatura, como Vinicius de Moraes, ou da música clássica, como Beethoven, mas é quase uma condenação social não estar a par da última dupla sertaneja ou do influenciador viral do TikTok.
Esses dois artistas se tornaram tópicos de discussão acalorada antes mesmo do início do conflito entre Israel e Irã. A direita brasileira celebrou a prisão do MC Poze, enquanto a esquerda se mostrou favorável à condenação do humorista Leo Lins. Esses eventos levantam questões complexas sobre a liberdade de expressão e seus limites.
Em relação a Poze do Rodo, dois aspectos se destacam. O primeiro é que a sua prisão se transformou em um espetáculo público, evidenciando um desrespeito claro aos direitos do preso. Essa prática não é nova; é uma característica do modus operandi das forças policiais em nosso país, embora isso não diminua a gravidade da situação. O segundo aspecto é que suas letras claramente incitam à criminalidade e fazem apologia ao crime, podendo ser interpretadas à luz dos artigos 286 e 287 do Código Penal brasileiro. As músicas dele promovem a aliciação de jovens para facções criminosas, como o Comando Vermelho, e estimulam a violência contra membros de grupos rivais. As letras são simples, o que torna fácil compreender sua mensagem. A conexão do artista com o CV é evidente, uma vez que ele mesmo a confirmou ao ser preso. Portanto, de acordo com a legislação vigente, existem razões suficientes para a prisão do MC Poze do Rodo.
É fascinante como a romantização do crime se tornou uma constante no brasil. A narrativa em torno de Poze do Rodo foi reduzida a um discurso racial: como ele é negro, sua prisão foi considerada injusta. É importante reconhecer a influência do racismo na atuação policial, mas também é necessário considerar outros fatores que cercam a vida do cantor, como sua riqueza e o acesso a advogados de renome, que rapidamente garantiram sua liberdade. Comparar sua situação à de um negro ou mesmo de um branco em situação de vulnerabilidade é uma simplificação inadequada. A discussão relevante sobre preconceito linguístico, portanto, acaba sendo desvirtuada em prol de uma performance que busca aplausos.
Neste contexto de crescente insegurança nas cidades brasileiras, a sociedade enfrenta um grande desafio: combater o punitivismo e a preferência por soluções autoritárias, promovidas pela mídia, enquanto tenta avançar em um discurso mais complexo sobre segurança pública que incorpore uma perspectiva social e respeite os direitos humanos.
Em contrapartida, em defesa do MC Poze do Rodo, as vozes pediam a cabeça do comediante Leo Lins.
Acredito que a produção artística de ambos os indivíduos revela um lado negativo da cultura contemporânea. Um deles faz uma apologia explícita ao crime organizado, enquanto o outro se destaca por piadas que são, no mínimo, de mau gosto, além de serem grosseiras, preconceituosas e insensíveis. E, como já ficou claro, nenhuma dessas ações é considerada crime no brasil. É um paradoxo que merece reflexão: até onde vai a liberdade de expressão e quais os limites que devemos respeitar para que essa liberdade não se transforme em um espaço para a promoção de discursos nocivos?